terça-feira, 30 de agosto de 2011

AS SEARAS

São modestas as searas... da minha terra, laboriosas e nobres em cada mão que gentil parte o pão.
São de Julho os grãos pendentes, cabeças baixas sob o astro, altivas sobre a terra para depois, escondidos em arcas escuras, se esquecerem da sua divindade.
São assim de centeio humilde estes milagres da saciedade, de espigas prenhes que murmuram... promessas e de gerações que deles dependeram... sofridas.
Assim são hoje guardadas as minhas modestas searas... possuídas em cada olhar e memoradas em simples oração.
Sentado na terra. Encontrei-o assim, há dias. Sentado na terra mas com o olhar fixo nos céus.
Ontem, como um prenúncio que só mais tarde se identifica como tal, fotografei-o repetidamente com a minha mente. Nunca o tinha feito. Sob uma luz benfazeja que compreendia a origem de tal serenidade, apercebi-me dos detalhes exteriores da sua singularidade.
Esperou pacientemente que terminasse o trabalho irrepetível, duro como o granito da Serra da Nave, como um herói que se sacrifica pela sua causa e tombou enfim por terra, sem protestos ou lamentos, digno e belo.
O peso da sua exuberância, o exagero da sua força interior, prenderam-no ironicamente àquela terra da qual parecia querer fugir, a mesma que nutria afinal todo o seu sonho de fazer o que ainda não tinha feito.
O silêncio e eu sentámo-nos pensativamente a seu lado.
Indiscritível definir este Mestre.
Nem palavras, nem cinzéis, nem acordes, nem pincéis são gargantas deste grito.
Universo em expansão. Pincelada de zarcão, desde mais infinito a menos infinito…
Sempre a indesencorajada força do Mestre, resoluta indo à luta. Sempre de ávidos olhos, hurras, palmas de boas-vindas, um ruidoso aplauso, curioso e por fim não convencido, lutando hoje como sempre, batalhando e acreditando como sempre.
São as vivências de uma vida completa…



Alexandra Campos