domingo, 22 de maio de 2016

ORLANDO RIBEIRO,…Viseu, um Território de Inspirações


Itinerâncias de um Geogógrafo
https://www.youtube.com/watch?v=mQyvkmMvKYA


Para este batismo radiofónico, resolvi sair do meu espaço de conforto e entrar na área da geografia física e humana, ou melhor na sua síntese fazendo jus à crónica que pretendo ir desenvolvendo na “mesa do canto” que intitulei “Raízes, Querenças e Achegas”. Esta escolha assenta na lógica de querer conhecer mais e melhor do “ecossistema” onde vivo, na sua morfologia, fisiologia, dinâmicas e nas relações de interdependência que se estabelecem entre os lugares, os factos e as pessoas. Esta aprendizagem é para mim crucial, porque não fui nado nem criado em Viseu, mas que a tenho como cidade adotiva há mais de 20 anos e que é “berço” das minhas filhas.
Não pretendo ter rasgos de inteligência, nem procuro influenciar com a minha visão das coisas, apenas gosto rasgar no sentido do arriscar, não apenas ir contra corrente, mas por vezes ajudar a alimentar a corrente. Nesse sentido, podendo não ser uma escolha óbvia, mas de modo algum contra natura, elegi Orlando Ribeiro (1991-1997) como o primeiro mestre a quem pretendo prestar homenagem e com quero aprender a geografia da cidade, da região de uma forma sistémica e integrada, a par de outros que tão bem a interpretaram como Amorim Girão. Porque para desenvolvermos todos os “quereres” temos que conhecer muito bem as raízes que são os esteios que alicerçaram todo este cenário.
A escolha de Orlando Ribeiro, incidiu no facto dele considerar-se um Naturalista por ser um observador escrupuloso da natureza. Conhecer a sua obra notável “Portugal, o Mediterrâneo e o Atlântico” é um elemento inspirador para definir a Marca Portugal nas suas mais variadas vertentes. Depois, porque o vejo muito pouco associado à cidade de Viseu quando, nas suas palavras, o seu avô materno Augusto Carvela oficial do Exército, cujas origens remontam a Viseu, terá sido um dos grandes inspiradores para que Orlando Ribeiro tivesse seguido a geografia como área de estudo. Foi na companhia do avô que teve os primeiros contactos com o campo, em Runa (Almada) e Viseu, de onde a família era originária e onde vinha passar férias. "Tudo lugares onde o campo está perto, onde era possível estar só, passear por sítios aprazíveis, apanhar amoras e, na beira dos caminhos, cortar canas para fazer brinquedos", contou nos seus escritos (Memórias de Um Geógrafo, 2003). "O gosto da geografia devo-o ao amor da natureza e da vida do campo, desenvolvido em longos passeios a pé", continuava. "A partir destas recordações de infância, sinto-me profundamente enraizado na vida obscura do meu povo. Criado entre gente simples e humilde, fiquei sempre fiel às origens, ao gosto de uma vida sóbria (...).
Era um homem fiel às origens que apelava com frequência às recordações de infância. Quando temos memórias de infância temos uma enorme fortuna, conhecemos o curso das nossas raízes, das nossas inspirações, dos nossos princípios, ideais e que podem servir de inspiração para outros, alunos e muito em especial para transmitir aos filhos, aqueles a quem naturalmente queremos dar o melhor.
Viseu foi a primeira cidade portuguesa objeto dum estudo geográfico (Aristides de Amorim Girão, 1925), num trabalho meritório que ficou por muito tempo único entre nós no domínio da geografia urbana. Estudo que guiou Orlando Ribeiro nos seus primeiros passos na compreensão evolutiva duma aglomeração modesta pelas dimensões mas diferenciada na estrutura, nas fases de desenvolvimento e nas funções que exerce como centro duma região densamente povoada e de intensa, posto que descontínua, ocupação agrária. Quarenta anos volvidos, volta a atrair-se de novo por esta cidade pequena mas singularmente animada conservando grande parte do casco antigo, renova o centro e desenrola na periferia bairros em pleno desenvolvimento.
O geógrafo Orlando Ribeiro de quem sua esposa Suzanne Daveau, também geógrafa, dizia ser "um homem que facilmente se emocionava com as paisagens". Talvez por isto seja hora da cidade retribuir o seu reconhecimento a Orlando Ribeiro dando-o a conhecer melhor à cidade e a uma das regiões que lhe serviu de inspiração. Na relação entre Orlando Ribeiro e Aquilino Ribeiro (Geografia Sentimental), apenas referir que Orlando leu muito Aquilino e que achava divertido o seu vernáculo.
Orlando tinha uma sensibilidade estética, poética e artística. Diante dos impressionistas, como Manet, Monet, Van Gogh dissertava com Ilidio Amaral sobre conceitos de paisagem, da forma como eles se recusaram a ver como objeto imutabilizado na fotografia, para substituir isso pela análise sensorial de formas em evolução constante, sobre a utilização das cores em novas paletas cromáticas e composições caleidoscópicas, sobre a distorção de figuras humanas para se penetrar no complicado jogo de inter-relações de aspetos físicos e mentais.
Considerava-se um naturalista Amador e um observador escrupuloso da Natureza...

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