sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O Ecossistema Natural e Económico da Capital do Míscaro...Territórios com Identidade...


Agradecimentos: Presidente Paulo Santos, ao Vereador Prof. Fernando Gomes e à Vereadora Dra. Zélia Silva

Preparamos o auditório do Centro Cultural do Sátão, com as colaboradoras, para um ciclo de conferências integradas na Feira do Míscaro. A Gastronomia é Cultura, por isso aqui "assenta que nem uma luva", uma prova de degustação de cogumelos silvestres.

Por culpa do Cenário, há muita gente "já não me podem ver pelas costas" e com toda a razão! Em primeiro lugar a Vereação do Sátão, que bem arrependida deve estar de me ter convidado. Quero agradecer de uma forma muito sincera ao Vereador das Obras o Prof. Fernando Gomes e à Dr.ª Zélia Silva que fizeram o possível e quase o impossível para me agradarem. Prometo que é a última vez!

Depois o Chef Paulo Cardoso da Casa da Insua, que me atura cada uma, agora em colaboração com o Eduardo Almeida que irão preparar Boletus edulis e B. pinophilus, Lactarius delicious, Hydnum repandum e o Sparassis crispa que vieram da Frutisilves pela mão do Patrick. 

Ao Luís Abrantes da Movecho por ajudar a realizar sonhos

Aos funcionários do Município do Sátão eu nem faço ideia do que custou em termos de esforço físico levar o cenário para a Casa da Cultura.

Ao Manuel Paraíso já nem digo nada, a não ser um MUITO OBRIGADO.

Ao Eng. Vitor Figueiredo, meu colega da ESAV devo muito desta realização, o meu Muito Obrigado, de forma muito reconhecida! Ao José Matias já nem lhe digo nada!


 (Slide definição) A definição vulgar de míscaro é normalmente mais lata que a do simples Tricholoma equestre e é nessa vertente que aceitei falar um pouco sobre o Mundo Fungi e o seu potencial de futuro, adequando a este território.



(Slide Layers) Aproveito para dizer que sei muito pouco do Sátão e algumas coisas do que direi foi do contacto com este concelho e as suas gentes nestes últimos dias na preparação deste evento. O concelho não se conhece por um SIG que junta várias layers e que até é atualizável. O Sátão pode acrescentar uma layer que normalmente os outros concelhos não dão tanta importância e já ganhou méritos por isso. Falaremos dessa layer hoje. A rede subterrânea do micélio.



(Slide Reinos) O reino Fungi, ao qual pertencem os míscaros, assume-se como um mundo à parte que inclui uma extensa biodiversidade estimando-se que existam entre 1,5 a 5 milhões de espécies, sendo que apenas 5% das espécies estão atualmente classificadas e descritas.


(Slide biodiversidade) Deste modo, trata-se de um grupo com um enorme potencial por descobrir e que, à semelhança do passado, se pode assumir como um grupo preponderante para as realizações futuras nas mais diversas áreas do conhecimento com particular incidência na promoção de saúde, mas acredito eu, em muitas outras, por via de um conjunto de características que iremos abordar de forma abreviada.




(Slide 6, 7) Por isso, a aposta do concelho do Sátão numa marca ligada ao reino Fungi, é também uma aposta de futuro que assenta numa rede estável e perene, à semelhança das hifas num micélio, que pode frutificar rapidamente tal como os carpóforos, de forma efémera, mas reprodutível. Este modo de interação poderá servir de ensinamento para a forma de organização da economia e da sociedade do Sátão e do modo como pode ser replicada pelo mundo. A natureza proporciona-nos os melhores exemplos para podermos aplicar na prática. Tudo o que realiza foi largamente testado ao longo de muitos anos e os resultados são fruto de muitos equilíbrios e desequilíbrios que se foram estabelecendo, tal como nas sociedades e nas empresas, para não falarmos da política.



(Slide 8 micélio no solo) Esta rede de fungos subterrânea desempenha um papel de relevo na degradação de material orgânico em particular nas nossas floresta, sendo inclusivamente os organismos dominantes em solos arejados representando 10%–60% da biomassa da camada superficial do solo. São elementos vitais para a continuada renovação dos solos e da matéria-prima necessária para o crescimento das árvores. Tal como na sociedade nem todos funcionam na forma de promoção e valorização, outros há que são danosos, mas ente eles e com o próprio ecossistema sabem encontrar equilíbrios para que o resultado final seja francamente positivo. 


(Slide 9 micélio) Nos solos deste concelho, estende-se uma rede (layer) que estimula o crescimento da floresta por via de associações simbióticas e que pode servir de exemplo para que estimule o crescimento social e económico. Para isso temos que conhecer muito bem o território, as empresas, as pessoas e as suas idiossincrasias. A simbiose entre fungos e plantas tem um papel crucial na proteção de plantas de doenças e na absorção de nutrientes: 95% das famílias de plantas têm associações micorrízicas com fungos. 


(Slide 10 Míldio) Por outro lado, também há um conjunto de fungos que provocam largos prejuízos na agricultura, mas temos que os combater de uma forma inteligente e sustentável. Por exemplo, no caso da vinha combatemos o míldio e o oídio com extratos de plantas na qual o cardo e urtiga podem desempenhar um papel de futuro. Muitas outras plantas poderão ser utilizadas nessa função antifúngica. Estes territórios devem dar cada vez mais atenção aos seus recursos endógenos, ao potencial da biodiversidade dos seus recursos genéticos, muito em particular no setor agro-florestal que se possam traduzir numa valorização económica, social e cultural.


(Slide 11) Esta valorização pode ser liderada por um município, através das diversas ferramentas que possui como associações de desenvolvimento rural, em parceria direta com as Empresas e em estreita ligação com as Universidades, Politécnicos e Centros de Investigação. O Sátão pode ser a força motriz para a criação de um centro de Investigação dedicado aos Fungos a nível Nacional. Como Penalva podia ter sido para o Cardo e para o Queijo, como Nelas tinha que ser para o Vinho,…. Todos eles integrados e em Simbiose.
Esta área do conhecimento é muito exigente por ser ainda pouco conhecida e é muito aliciante pelo futuro que perspetiva. Por isso a promoção deve ser incentivada nos mais jovens, desde tenra idade com objetivos adequados aos vários níveis de ensino, envolvendo as ciências, mas também a arte e as outras formas de cultura.
Reparei numa das visitas à Escola Secundária do Sátão que tinham uma bancada repleta de prémios WANTED. Só prova a criatividade dos jovens e professores da Escola Secundária do Sátão, como das outras. Não sei a forma como abordam o mundo Fungi, e se algum daqueles prémios teve por base alguma ideia baseada neste grupo de exceção.
 A mensagem que deixo é que apostem neste mundo de futuro, nas mais diversas abordagens numa lógica de promover a máxima do Concelho. Ideias não faltarão e seguramente reconhecimento em prémios também não. Se quiserem algum apoio não faltarão instituições que se quererão juntar a vós, até pela diferenciação. A Frutisilves seguramente que aqui terá um papel fulcral, como o tem a Ervital noutro concelho e numa outra área, a das plantas aromáticas. Para que tudo isso resulte as qualidades e a forma de ser dos responsáveis das empresas é determinante. O Município tem que estimular estas redes, depois tudo o resto pode crescer como “cogumelos”.








(Slide 12-19) Quando sugeri a realização de uma Prova de degustação de cogumelos silvestres no âmbito deste evento, não foi seguramente por o ter visto noutro lado. Foi sim, porque o Sátão é sem dúvida o local de eleição para uma realização de um evento desta natureza. Poucos se lembraram que em 12 de dezembro de 2004 o Sátão e em particular a Frutisilves de então, pela capacidade do Sr. Domingos, proporcionou-me realizar um dos eventos mais brilhantes a que já assisti nesta temática. Nessa altura fomos arrojados! Trouxemos um chef de cozinha da Monteil, Jean Pierre Fauchet para confeccionar uma manjar dos deuses. O anfitrião que, na altura tornou possível esta realização foi o Dr. Machado Matos na altura Diretor do Hotel Montebelo. A intenção hoje é outra! Trabalhar de forma competente mas perceber os aromas primários dos cogumelos silvestres. 


(Slide 20 cogumelo do tempo) Um senão é que estamos sempre dependentes das contingências do tempo para termos aqueles que são considerados os “frutos” gourmet. Por exemplo nesta altura e fruto do tempo ainda não temos acesso a todas as espécies que gostaríamos de dar a provar. Não é ingénuo o aproveitamento da marca forte cogumelo sob ponto de vista comercial “Cogumelo do Tempo”. Cada um saberá fazer a sua avaliação e análise.


(Slide 21 crescimento) A rapidez de crescimento das frutificações é uma das características que representa um enorme potencial de futuro.






(Slide 22 – 26) Curioso que num ecossistema como a floresta em que tudo cresce lentamente há umas estruturas que irrompem de forma desmesurada. Isto abre muito perspetivas de produção e preenchimento de moldes com as mais diversas vocações que Maurizio Montalti tem desenvolvido de uma forma muito hábil. Estamos a falar da Indústria 4.0 Plus.


(Slide 27 coprinus) Curiosíssima, é a história dos cogumelos do Género Coprinus, muito a propósito do centenário do Armistício comemorado recentemente, que produzem um líquido negro semelhante à tinta-da-china que foi utilizada na I Grande Guerra, pelos Aliados, para escreverem mensagens, cuja autenticidade era reconhecida pelos esporos que a tinta continha, observada a escrita com uma lupa. Para esse efeito, estes cogumelos eram cultivados nas trincheiras. Num tempo de incertezas políticas e sociais mostra-nos o papel que os representantes deste reino podem vir a ter no futuro como já o tiveram no passado.


(Slide 28 cogumelo nuclear) Se pensarmos na maior tragédia da humanidade, as Bomba de Hiroshima e Nagashaki , surge mais uma vez a forma cogumelo. Quando uma bomba atómica é detonada, produz uma bolha de gás muito quente atingindo uma temperatura de dezenas de milhões de graus celsius, aquecendo violentamente o ar que está em volta dela. Como esse ar que se tornou quente é mais leve que o ar da atmosfera, a tal bolha sobe podendo atingir 18 km de altura em 90 seg. Nas explosões nucleares, a bolha de gás sobe numa velocidade de centenas de quilômetros por hora, levando toneladas de ar e de poeira. A altura que a formação atinge depende da força da explosão que é medida em megatons (equivalente a mihões de toneladas de dinamite). Já foram testadas bombas com 70 megatons, 5 mil vezes mais que a bomba de hiroshima em 1945. Alfred Nobel foi o inventor do dinamite embora pensado primeiramente para fins na construção civil. Curioso o facto de ter criado uma fundação que contribuísse para o desenvolvimento da humanidade.


(Slide 29)  No caso de Chernobyl (1986) curiosamente os primeiros colonizadores foram fungos que revelam atratividade pelos elementos radioactivos o que acredito podem vir a ser usado no futuro em processos de remediação da radioactividade, um dos problemas mais sérios com que a humanidade tem que lidar a par do plástico. 


(Slide 30 Zalerion) Muito recentemente cientistas portugueses da Uaveiro detetaram um fungo "Zalerion maritimum", que habita na vive nos oceanos da costa portuguesa  e destrói o plástico, uma descoberta que pode ser promissora para o combate da poluição do mar.


 (Slide 31 nutrição) Outras questões que se colocam no futuro da sustentabilidade do planeta Terra tem a ver com assegurar alimentação para os biliões que aí vêm, bem como como reduzir e reutilizar o lixo produzido pelas megametrópoles. Neste particular os fungos terão um papel de relevo na reposta concertada com outras estratégias a estes desafios. 


(Slide 32) Eu não tenho números relativos ao volume de cogumelos que chegam a ser consumidos em fresco. No Sátão temos a Frutisilves um empresa de referência no setor do retalho dos cogumelos silvestres e temos uma outra a Frueat ligada a desidratação de fruta e vegetais. Não será difícil pensar no interesse estratégico para o concelho que estas duas empresas pudessem estabelecer relações de parceria concertada com vista à produção de cogumelos desidratados. As tecnologias estão cá e instaladas. O custo baixo de produção poderia levar a que pudessem ser usados como base alimentar nas cantinas das escolas. No futuro vamos comer insetos, comecemos cá por comer primeiro cogumelos. (História da alfarroba – São João Batista)


(Slide 33 leveduras) No âmbito da história dos fungos na evolução de produtos agro-alimentares, temos o pão, a cerveja e o vinho como produtos que usam fungos nos processos de fermentação. Curiosamente no fabrico do Queijo o papel principal não é realizado por fungos, mas sim por enzimas proteolíticas que no caso do QSE que hoje vamos provar são as enzimas que estão na for do cardo que fazem esse papel. Contudo, em muitos queijos os fungos são também valorizados, contudo noutros como o caso do Queijo Serra da estrela DOP é uma limitação para a disseminação em larga escala pelo mundo.
(Slide 34) Queria aproveitar para agradecer à Movecho em particular ao Luís Abrantes (CEO) por ter disponibilizado todo o mobiliário para a concretização deste cenário que inclui peças exclusivas premiadas na German Design Award 2018, o que concretiza o enorme potencial deste Território em criar Marcas com Identidade e diferenciação. Empresas deste calibre, à semelhança de outras, obrigam-nos a nós enquanto instituições de ensino superior a sermos técnico-cientificamente mais competentes, criativos e inovadores para acompanharmos a pedalada. 



(slide 35) Não contente a região, conquista por via indireta mais um German Design Award, neste caso de 2019, com o elemento alcachofra da Bordallo Pinheiro, pertencente ao grupo Visabeira. No primeiro caso a mensagem foi pegar num elemento muito Português como a cortiça e desenvolver patentes para a criação de modelos exclusivos de estética e arquitetura apuradas. No segundo usa-se a alcachofra como elemento icónico para a criação de um elemento estético. Curiosamente, em Portugal existem cerca de 5 ha de alcachofra na zona de Mira que foram abandonados e que fomos sondados para podermos aproveitar a flor para a confeção de Queijos de Ovelha. Se tivéssemos tido o arrojo de apostar no cardo levaríamos a mensagem dos Queijos DOP. 


(Slide 36) Situação análoga passou-se no dia 11 de outubro, no qual o Comissário Carlos Moedas na apresentação do programa de Bioeconomia 2020 no valor de 100 milhões de euros, apresentou o cardo com uma planta de futuro por via da sua aplicação em plásticos mas não na criação do produto mais biotecnológico que conheço que é o Queijo de Leite de Ovelha crú.


(Slide 37) A força estética do cogumelo permite criarmos produtos perfeitamente adequados à lógica do habitat que frequenta ou da sua funcionalidade. (Guarda-chuva) Té podia ser o German Design Award, neste caso de 2020.


(Slide 38) Investigadores do Centro de Neurociências e Biologia Celular (CNC) e do Instituto de Investigação Clínica e Biomédica de Coimbra (iCBR) da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra (FMUC) descobriram que o cogumelo Coriolus versicolor estimula neurónios em área do cérebro envolvida na memória, por via do aumento da complexidade dos novos neurónios formados no hipocampo adulto relativamente à dimensão e arborização das dendrites (prolongamentos dos neurónios que permitem que estes comuniquem entre si), uma área do cérebro ligada à memória. Este cogumelo poderá contribuir para o fortalecimento da reserva neurogénica e possivelmente da ‘reserva cognitiva’. Uma dieta que inclua este suplemento pode fazer parte de uma estratégia que favoreça o envelhecimento saudável, incluindo a prevenção de défices cognitivos associados ao processo de neurodegenerescência. Mycology Research Laboratories (www.mycologyresearch.com), empresa britânica focada em produtos de nutrição baseados em cogumelos, que mantém colaborações com várias universidades portuguesas.

Para além das escolas do concelho também os centros de saúde poderiam estar envolvidos em Estudos científicos no sentido de esclarecer algumas questões de patogenicidade que se apontam a alguns cogumelos e que são consumidos com frequência na região. Será que a população já sofreu mutações que possam estar imunes a alguma dessa toxicidade.
Os municípios do interior dito eufemisticamente de baixa densidade apoiam muitos alunos com bolsas para o ensino superior para ganho de massa crítica na região. É um investimento no sentido certo. É certo que a maioria deles não regressa pelas qualidades que demonstram. Mas poderia haver um estímulo maior para aqueles alunos que venham a desenvolverem projetos que possam valorizar o concelho, isto devidamente articulado com as instituições de ensino superior, centros de investigação e empresas.



(Slide 39) Falar de mais um exemplo a cogumelo Biónico capaz de produzir energia. Trata-se de um fungo, mas devidamente carregado de bactérias e filamentos de grafeno – um potente condutor de calor – pode gerar eletricidade. Estamos a falar de baterias de futuro
Nem abordei a questão dos alucinogénios da importância extrema que têm desde tempos remotos do Maias associado até à religião e nos dias de hoje ligado à medicina e à recreação.


Quando pensarem na resolução futura de problemas do presente, tenham sempre em mente que este mundo quase desconhecido terá um papel de relevo na resolução dessas questões. Aos jovens não limitem as vossas imaginações e os vossos ideais e procurem conhecer muito bem esta realidade para adequarem da melhor forma as aplicações do futuro.
Por isso acredito que pessoas como o Manuel Paraíso, o João Madanelo, o José Matias e o Joaquim Morgado, se possam assumir como baluartes dessa valorização.

Ao meu Grande Amigo Miguel Maia Loureiro que me "introduziu" na gastronomia dos Cogumelos Silvestres há 15 anos atrás...Daqueles Amigos que sentimos falta...temos tão pouco e destes então...mesmo muito poucos! 


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