Cardo
apresenta-se, hoje, como uma oportunidade na região Centro de Portugal, porque,
para além de bem adaptado às condições edafoclimáticas face à tendência das
alterações climáticas, é no Centro que se encontram as indústrias que podem
valorizar de forma muito significativa a biomassa proveniente desta espécie. Em
primeiro lugar o cardo justifica-se na região pela existência dos queijos Serra
da Estrela e Beira Baixa DOP que, pela regulamentação vigente, são obrigados a
usar extratos de flor de cardo como ingrediente para o processo de coagulação.
Mas ainda existem todos os restantes queijos não DOP que poderiam usar a flor
de cardo no fabrico de queijos de leite de ovelha, cabra e vaca com vantagens acrescidas
que permitiriam aumentar o leque da diversidade dos queijos do Centro. Esta
opção viria a reforçar a designação DOP na qual todos os ingredientes deverão
ser originários do Território de Denominação de Origem, colocando assim todo o
foco no Centro, no que toca ao leite, ao cardo e até ao sal. Dando particular atenção
à restante biomassa poderemos afirmar que o caule pela excecionalidade da sua
estrutura que confere simultaneamente resistência e leveza, e que esteve à
prova na maior feira de mobiliário do Mundo em Milão, pela mão do Departamento
de Madeiras do IPV, terá uma larga aplicação na produção de estruturas de
madeira leves e resistentes com função de “esqueleto” onde pode fazer toda a
diferença pelo notável desempenho. Acredito que o grande destaque possa advir
de peças de design capazes de arrebatar prémios de excelência no design a nível
internacional e abrir um novo capítulo do cardo e que as instituições de
investigação, associadas com o sector agro-pecuário e a indústria do Centro temos
que assumir a responsabilidade e o desafio. Desde há muito, que venho
defendendo que a área das embalagens pode vir a assumir-se como um dos grandes
desígnios do Cardo nos tempos mais próximos, aliando estrutura, função e design
numa lógica que poucos biomateriais poderão proporcionar de uma forma natural. O
grande trunfo do cardo no Centro estabelece-se pela proximidade entre a
produção de cardo e as mais diversas induústrias de transformação que é de
crucial importância porque a leveza do material onera em muito o seu
transporte, constituindo-se uma oportunidade de futuro a curto prazo,
especialmente para terrenos incultos e de matos em toda a vasta região centro.
Estamos ainda a dar particular atenção às folhas de cardo que pela diversidade em
compostos bioactivos podem assumir diversas aplicações desde os biocidas e
proteção de plantas até à farmacêutica, cosmética, nutrição, dietética e
alimentação, sempre privilegiando os contactos e os desenvolvimentos na
investigação com o potencial industrial do Centro. As sementes têm sido uma das
formas de biomassa onde mais se tem avançado, designadamente na produção de
óleos e bioplásticos, embora ainda possam assumir-se como complemento na
alimentação animal pela elevada teor de proteínas. Desenhar formas de produção
adequadas as diversas tipologias de exploração é o objetivo a que nos propomos
quando solicitam a nossa colaboração. Não queremos unicidades, mas formas de
diferenciação valorizadas. Este tem sido o nosso desígnio desde há anos, mas
nunca senti estar tão perto de alcançar uma parte significativa dos objetivos a
que nos propusemos inicialmente. Temos que saber retirar de cada órgão da
planta e de cada elemento da biomassa a melhor rentabilidade possível que
dependerá da vocação definida e da forma como cada um dos seus utilizadores a poderá
valorizar. Os pigmentos são um bom exemplo. Se a indústria queijeira não
valoriza as antocianas, compostos fenólicos e flavonoides que existem nos
pigmentos da flor porque não os disponibilizamos à tinturaria mais evoluída que
também temos. Ou então passemos a afirmar com todas as letras que os queijos
contêm na sua composição estes elementos que são vitais para a promoção da nossa
saúde. O que não podemos é desperdiçar o potencial que nos é proporcionado
pelas mais diversas formas de biomassa, seja a flor, caule, sementes ou folhas.
Apesar de todos os esforços que têm sido feitos, e dos bons exemplos que podemos
destacar, em termos gerais, a investigação ainda anda algo afastada da
indústria e da sociedade e vice-versa e são normalmente os mesmos que têm
acesso direto aos órgãos de decisão da política regional que define os desafios
e os novos paradigmas do desenvolvimento. Na minha modesta opinião estes têm
que ser muito bem definidos e desenhados, em complementaridade, e devidamente
ajustados ao potencial produtivo já existente e alinhados com as tendências de
futuro no que toca à sustentabilidade, economia circular e de proximidade e
redução de emissão de gases com efeito de estufa. Mas façamos mais, atentemos
na inovação com olhos de ver ao pormenor e inteligência sensorial!
sábado, 15 de junho de 2019
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