O planeamento e criação de uma
rota é um desafio de extrema complexidade pelos vários níveis de informação que
envolve e pela multidisciplinaridade de áreas que congrega. Esta matriz
complexa deve conseguir criar pontes de contacto a partir de onde se podem
começar a definir as linhas que ajudam a cerzir o tecido geográfico, social, cultural
e económico que são comuns à grande maioria das rotas e que as podem guindar ao
sucesso. O padrão das nervuras de uma folha de videira, corresponde à imagem
que melhor traduz os eixos que podem nutrir uma rota e definir os seus limites.
Cada rota numa região, apesar da sua especificidade, poderá e deverá ter um
lastro que extravase o nicho, buscando novos e diversificados domínios e
sinergias sem perder a sua identidade. O desafio lançado foi que interpretasse
a Rota dos vinhos do Dão que, de acordo com os seus promotores, se assume como “um
ponto de partida para uma grande viagem” mas, para além disso, pretende dar a
conhecer a região através dos percursos delineados e as suas vocações como a
vinoterapia e o termalismo, a gastronomia, os desportos de aventura e natureza,
o golfe e hipismo. Estas são as áreas que a região do Dão identificou há muito
como aquelas que mais promovem e valorizam o turismo no Centro de Portugal, ou
mais concretamente no “Coração” de Portugal. Outras haveria que poderiam marcar
alguma diferenciação face à oferta turística concorrente, mas aí teríamos que
ser inovadores e muitas vezes não há arrojo político. A região demarcada do Dão
que já comemorou o seu centenário, representa hoje um vasto legado histórico e
cultural que se deve assumir como elemento diferenciador na área vitivinícola,
não sendo de todo contraditório com a imagem moderna que hoje pretende
transmitir. É igualmente uma região com uma excelência na biodiversidade dos
seus recursos genéticos onde se incluem duas castas de referência, uma tinta
`Touriga Nacional´ e outra branca `Encruzado´ que se assumem como esteios de
exceção que conferem uma personalidade e unicidade aos vinhos do Dão. A rota
devia vincar esta valorização no sentido de testemunho, fazendo-se a título de
exemplo passar pela aldeia de Tourigo, aninhada na encosta do Caramulo, com o nome
da casta-magna do Dão e onde muito provavelmente terá tido a sua origem, bem
como passar pelas lagaretas como exemplos desse legado. Um outro local
emblemático onde a rota deverá obrigatoriamente fazer eco, pelo repositório dos
recursos genéticos vitícolas e pelo conhecimento técnico-científico daqueles
que há décadas trabalham em prol de toda uma região e um setor, é o Centro de
Estudos Vitivinícolas do Dão (Nelas), fundado em 21 de Novembro de 1946. Aliás,
este seria quiçá o local ideal para a criação de um centro de interpretação de
referência no Dão com todas as valências relacionadas com o setor, mas que
fosse inovador, criativo e que proporcionasse uma nova dinâmica a este centro
que tem sofrido um notório desinvestimento o que não deixa de ser antagónico. Um
outro exemplo numa ótica completamente distinta prende-se com a vinoterapia e o
termalismo. As termas de Alcafache, apesar de apresentarem um programa de
vinoterapia, não são referenciadas nem integram a Rota dos vinhos do Dão,
embora pudessem assumir-se como uma mais valia diferenciadora. As referências e
localizações de restaurantes de excelência onde pudéssemos degustar os néctares
e as iguarias beirãs poderia ser um desígnio da Rota, na qual os restaurantes
teriam um conjunto de requisitos a cumprirem em prol da defesa e promoção do
vinho do Dão e da cultura gastronómica da região, ajudando a promover os
produtos regionais e os seus produtores numa lógica de economia de proximidade.
É desejável que outras estruturas, para além da Casa da Ínsua que abre e fecha
o folheto promocional da Rota, possam criar sinergias entre os vários produtos
de denominação de origem ou que se incluam estruturas de referência nesses
produtos, bem como no artesanato ligado direta ou indiretamente à Cultura
agrícola. Há ainda toda uma questão de design, na qual confesso as minhas
limitações, mas que deverá merecer uma leitura atenta para uma melhor
interpretação. Existe a opção assumida de todos os roteiros terem exatamente a
mesma cor e a lógica dos nomes das estruturas se disporem por ordem alfabética.
Estes dois aspetos podem não facilitar a localização intuitiva das estruturas
nas rotas para aqueles que sejam menos familiarizados e no fundo, são os que
mais interessam. A aparente coincidência do “pantone” da Rota dos vinhos do Dão
com o da Feira de São Mateus vem seguramente numa lógica crescente e
politicamente assumida, de tornar a cidade de Viseu a capital do vinho do Dão.
Para bem de toda uma região é preciso sabermos separar bem as águas, isto
porque depois de `Feirar´ seguramente não vamos querer ´A Rotar´. Acredito que
esta é uma rota em atualização constante onde outros se virão a incluir e que
se quer interativa, dinâmica e competitiva para almejar os objetivos a que se
propõe. Com estas pequenas referências não procuro levantar celeumas, sabendo
que são as próprias estruturas que devem dizer presente e não estarem à espera
que sejam convocadas para incluírem esta viagem. Também já admiti a
complexidade desta realização e não posso deixar de frisar o mérito da sua
criação e implementação, tanto mais que é uma área geograficamente extensa que
abrange várias autarquias, associações de desenvolvimento rural de
sensibilidades políticas e económicas distintas e sabemos bem as suas
implicações e bloqueios. Desejo o maior dos sucessos a esta rota para bem do
vinho do Dão e dos seus produtores e de toda uma região.
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