domingo, 6 de setembro de 2015

O que as Rotas Dão. E esta o que Dá ou ...poderá vir a Dar...





O planeamento e criação de uma rota é um desafio de extrema complexidade pelos vários níveis de informação que envolve e pela multidisciplinaridade de áreas que congrega. Esta matriz complexa deve conseguir criar pontes de contacto a partir de onde se podem começar a definir as linhas que ajudam a cerzir o tecido geográfico, social, cultural e económico que são comuns à grande maioria das rotas e que as podem guindar ao sucesso. O padrão das nervuras de uma folha de videira, corresponde à imagem que melhor traduz os eixos que podem nutrir uma rota e definir os seus limites. Cada rota numa região, apesar da sua especificidade, poderá e deverá ter um lastro que extravase o nicho, buscando novos e diversificados domínios e sinergias sem perder a sua identidade. O desafio lançado foi que interpretasse a Rota dos vinhos do Dão que, de acordo com os seus promotores, se assume como “um ponto de partida para uma grande viagem” mas, para além disso, pretende dar a conhecer a região através dos percursos delineados e as suas vocações como a vinoterapia e o termalismo, a gastronomia, os desportos de aventura e natureza, o golfe e hipismo. Estas são as áreas que a região do Dão identificou há muito como aquelas que mais promovem e valorizam o turismo no Centro de Portugal, ou mais concretamente no “Coração” de Portugal. Outras haveria que poderiam marcar alguma diferenciação face à oferta turística concorrente, mas aí teríamos que ser inovadores e muitas vezes não há arrojo político. A região demarcada do Dão que já comemorou o seu centenário, representa hoje um vasto legado histórico e cultural que se deve assumir como elemento diferenciador na área vitivinícola, não sendo de todo contraditório com a imagem moderna que hoje pretende transmitir. É igualmente uma região com uma excelência na biodiversidade dos seus recursos genéticos onde se incluem duas castas de referência, uma tinta `Touriga Nacional´ e outra branca `Encruzado´ que se assumem como esteios de exceção que conferem uma personalidade e unicidade aos vinhos do Dão. A rota devia vincar esta valorização no sentido de testemunho, fazendo-se a título de exemplo passar pela aldeia de Tourigo, aninhada na encosta do Caramulo, com o nome da casta-magna do Dão e onde muito provavelmente terá tido a sua origem, bem como passar pelas lagaretas como exemplos desse legado. Um outro local emblemático onde a rota deverá obrigatoriamente fazer eco, pelo repositório dos recursos genéticos vitícolas e pelo conhecimento técnico-científico daqueles que há décadas trabalham em prol de toda uma região e um setor, é o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão (Nelas), fundado em 21 de Novembro de 1946. Aliás, este seria quiçá o local ideal para a criação de um centro de interpretação de referência no Dão com todas as valências relacionadas com o setor, mas que fosse inovador, criativo e que proporcionasse uma nova dinâmica a este centro que tem sofrido um notório desinvestimento o que não deixa de ser antagónico. Um outro exemplo numa ótica completamente distinta prende-se com a vinoterapia e o termalismo. As termas de Alcafache, apesar de apresentarem um programa de vinoterapia, não são referenciadas nem integram a Rota dos vinhos do Dão, embora pudessem assumir-se como uma mais valia diferenciadora. As referências e localizações de restaurantes de excelência onde pudéssemos degustar os néctares e as iguarias beirãs poderia ser um desígnio da Rota, na qual os restaurantes teriam um conjunto de requisitos a cumprirem em prol da defesa e promoção do vinho do Dão e da cultura gastronómica da região, ajudando a promover os produtos regionais e os seus produtores numa lógica de economia de proximidade. É desejável que outras estruturas, para além da Casa da Ínsua que abre e fecha o folheto promocional da Rota, possam criar sinergias entre os vários produtos de denominação de origem ou que se incluam estruturas de referência nesses produtos, bem como no artesanato ligado direta ou indiretamente à Cultura agrícola. Há ainda toda uma questão de design, na qual confesso as minhas limitações, mas que deverá merecer uma leitura atenta para uma melhor interpretação. Existe a opção assumida de todos os roteiros terem exatamente a mesma cor e a lógica dos nomes das estruturas se disporem por ordem alfabética. Estes dois aspetos podem não facilitar a localização intuitiva das estruturas nas rotas para aqueles que sejam menos familiarizados e no fundo, são os que mais interessam. A aparente coincidência do “pantone” da Rota dos vinhos do Dão com o da Feira de São Mateus vem seguramente numa lógica crescente e politicamente assumida, de tornar a cidade de Viseu a capital do vinho do Dão. Para bem de toda uma região é preciso sabermos separar bem as águas, isto porque depois de `Feirar´ seguramente não vamos querer ´A Rotar´. Acredito que esta é uma rota em atualização constante onde outros se virão a incluir e que se quer interativa, dinâmica e competitiva para almejar os objetivos a que se propõe. Com estas pequenas referências não procuro levantar celeumas, sabendo que são as próprias estruturas que devem dizer presente e não estarem à espera que sejam convocadas para incluírem esta viagem. Também já admiti a complexidade desta realização e não posso deixar de frisar o mérito da sua criação e implementação, tanto mais que é uma área geograficamente extensa que abrange várias autarquias, associações de desenvolvimento rural de sensibilidades políticas e económicas distintas e sabemos bem as suas implicações e bloqueios. Desejo o maior dos sucessos a esta rota para bem do vinho do Dão e dos seus produtores e de toda uma região.

Sem comentários:

Enviar um comentário