sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Almeida a única estrela que se vê na Gazeta Rural....



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“Almeida,… a única estrela que se vê do céu”
Paulo Barracosa

ALMEIDA representa o que de mais bravo e nobre um povo se pode orgulhar, assumindo um papel atuante nos momentos de instabilidade política vividos no ocidente peninsular, numa manifesta atitude corajosa de “dar o corpo às balas”. Por isso vou falar em primeiro lugar das gentes de Almeida. Infelizmente conheço poucas, mas das poucas que conheço, reconheço-lhes um mérito, uma vontade e uma coragem inigualáveis. A D. Manuela Tolda da ADEFS é um dos exemplos, daqueles do mais puro “quilate”, ou numa linguagem mais própria de Almeida de “calibre”. A D. Isalina da Conceição, uma anciã quase secular das Naves, transmitiu-me, pela voz da sua filha, de uma forma sábia a forma de vida do seu tempo, dos momentos que lhe ficaram gravados no seu “cerne”, dos aromas e dos cheiros, como a da borracha ou da giesta queimadas que alumiavam à noite até nos momentos de dar à luz os seus filhos. Falou-me dos mostajeiros da beira da estrada e dos mostajos que iam saboreando enquanto faziam o caminho até à vila. Dos famosos queijos de ovelha e cabra feitos com os cardos que cresciam nos quintais de toda a gente, do “sete estrelo” da constelação Touro e das trovoadas infindáveis limitadas pelo alinhamento do Côa. Dos serões nas casas de uns e de outros a tocar concertina e a declamar e a cantar “O sete estrelo gabou-se/que me enganou uma vez/de noite pelo escuro/ olha o milagre que ele fez”. Falou-me da vida do contrabando de amêndoa e lã churra para cá e de café para as bandas de lá, cujo kg dava um mês de prisão aliado ao temor que era atravessar o rio Águeda até se alcançar terra firme. Da incrível história do “pan de los perros” e do “pão de deus” e como Almeida era o fiel da balança relativamente ao poderia económico, ora de Espanha, ora de Portugal. Do árduo trabalho da malhada, então feita na eira de uma laje só, do tamanho de dois campos de futebol, outrora vendida aos espanhóis a troco de umas “miudezas”. Hoje, se ainda existisse, seria um ícone das Naves, por onde passei ontem à noite, antes de ir jantar à casa da D. Irene na Malpartida. Quando se fala de ALMEIDA vem-me à memória o ilustre pensador Eduardo Lourenço. Um pensador que afirma «O meu mundo real é o mundo da poesia e da ficção. Há um diálogo constante com o que leio ou li. Com os livros e as personagens. São a minha família secreta.». São este tipo de pensadores que não estabelecem fronteiras entre o real e o imaginário e muito provavelmente a sua “meninice” numa paisagem de perfil planáltico de longo alcance permitiu-lhe esta liberdade e pureza de espírito visionário. Curiosamente, o lema do Encontro em que participei, foi “Alma por Almeida”, quando o ditado mais conhecido é o de “Alma até Almeida”. Qualquer deles traduz o simbolismo e o apelo ao sentimento e vontade de querer, para fazer reverter o futuro destes territórios de baixa densidade, que à semelhança do passado, eu acredito que no futuro próximo podem vir a desempenhar um papel de relevo nas estratégias para o sucesso económico e social de um País como um todo. Se o fizeram de forma tão nobre no passado porque não o farão de forma audaz no futuro. Não acredito que em Portugal exista alguma estrela que se veja tão bem do céu como esta, que é Almeida. E este pode ser o pronúncio para que uma parte do sucesso futuro de Almeida passe pela história, pela memória e pelas fortificações que servem de suporte para a candidatura a Património Mundial da Unesco, mas também pela imaginação visionária de ficção, a tal que Eduardo Lourenço tão bem descreve. Curiosamente, ao fazer uma breve pesquisa sobre o potencial de Almeida para a Astronomia deparei-me com imensos especialistas nesta área da ciência com o apelido “de Almeida”. Que rica coincidência. Nesta visita, obriguei-me a sair de Almeida noite alta para testemunhar com os meus olhos o “negrume” do seu céu e o “belo” que seria um festival de astronomia em Almeida cujo slogan poderia ser “Almeida a única estrela que se vê do Céu”. Outros com igual potencial negligenciaram esta aposta, poder ser que estes com outras vistas o agarrem. Mas não posso deixar de referir por fim o Sr. Pereira, o responsável do Picadeiro D´El Rey de Almeida. Sem dúvida a maior surpresa do dia e aquele que faz a diferença em qualquer lugar do mundo. Tornou o dia das minhas filhas particularmente único e fiquei com uma enorme dívida de gratidão que gostaria que ecoasse não apenas pelo Côa mas por todo o Mundo. É para além de um mestre na arte do receber, um raro conhecedor dos imensos pormenores que passam ao lado dos comuns mortais, mesclando o sentimento dos seres e a mecânica das coisas. Antes de perguntarem opinião aos de fora, atentem aos de “casa”, especialmente a estes que não sendo de Almeida a conhecem até às “entranhas”. Eu não tive oportunidade de conhecer Almeida nos seus pormenores, mas as minhas filhas tiveram e isso é que conta para entusiasmarmos os jovens a olharem para este dito interior de baixa densidade com olhos de ver o futuro. Quiçá trazer jovens de outras paragens, quadrantes e meridianos com outras experiências de vida e visões que nós não alvitramos. Eu ia falar de “Almeida….A Alma da Agricultura que eCôa” no “VI Encontro Alma por Almeida” organizado pela ADEFS, com ilustres professores da UBI e do ISCTE, para além de representantes da Acrialmeida e do Clube de Caçadores e Pesca. Afinal fui aprender com os de Almeida e em particular com o Sr. Pereira. Um enorme Bem-haja.


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