ALMEIDA representa o que de mais bravo e nobre um povo se pode orgulhar, assumindo um papel atuante nos momentos de instabilidade política vividos no ocidente peninsular, numa manifesta atitude corajosa de “dar o corpo às balas”. Por isso devia falar em primeiro lugar das gentes de Almeida. Infelizmente conheço poucas, mas das poucas que conheço, reconheço-lhes um mérito, uma vontade e uma coragem inigualáveis. A D. Manuela Tolda da ADEFS é o mais puro dos exemplos sendo que, normalmente, não renego apoio a pessoas deste “quilate” ou numa linguagem mais própria de Almeida deste “calibre”. A D. Isalina da Conceição, uma anciã quase secular das Naves, transmitiu-me, pela voz da sua filha, de uma forma sábia a forma de vida do seu tempo, dos momentos que lhe ficaram gravados no seu “cerne”, dos aromas e dos cheiros, como a da borracha ou da giesta queimadas que alumiavam à noite até nos momentos de dar à luz os seus filhos. Falou-me dos mostajos da beira da estrada, dos famosos queijos de ovelha e cabra feitos com os cardos que cresciam nos quintais de toda a gente, do “sete estrelo” da constelação Touro e das trovoadas infindáveis limitadas pelo alinhamento do Côa. Dos serões nas casas de uns e de outros a tocar concertina e a declamar e a cantar “ O sete estrelo gabou-se/que me enganou uma vez/de noite pelo escuro/ olha o milagre que ele fez”. Falou-me da vida do contrabando de amêndoa e lã churra para cá e de café para as bandas de lá, cujo kg dava um mês de prisão e do temor que era o rio Águeda até alcançar terra firme que deixava todos com o coração nas mãos. Da incrível história do "pan de los “perros” e do “pão de deus” e como Almeida era o fiel da balança relativamente ao poderio económico, ora de Espanha, ora de Portugal. Do árduo trabalho da malhada, então feita numa eira de uma laje só do tamanho de dois campos de futebol, outrora vendida aos espanhóis a troco de umas “miudezas”. Hoje seria um ícone monumental das Naves, por onde passei ontem à noite, antes de ir jantar à casa da D. Irene na Malpartida. Quando se fala de ALMEIDA vem-me à memória o ilustre pensador Eduardo Lourenço. Um pensador que afirma «O meu mundo real é o mundo da poesia e da ficção. Há um diálogo constante com o que leio ou li. Com os livros e as personagens. São a minha família secreta.». São este tipo de pensadores que não estabelecem fronteiras entre o real e o imaginário e muito provavelmente a sua “meninice” numa paisagem de perfil planáltico de longo alcance permitiu-lhe esta liberdade e pureza de espírito visionário. Curiosamente, o lema do Encontro é “Alma por Almeida”, quando o ditado mais conhecido é o de “Alma até Almeida”. Qualquer deles traduz o simbolismo e o apelo ao sentimento de todos, para fazer reverter o futuro destes territórios de baixa densidade, que à semelhança do passado, eu acredito que no futuro próximo podem desempenhar um papel de relevo nas estratégias para o sucesso económico e social de um País. Se o fizeram de forma tão nobre no passado porque não o farão de forma audaz no futuro. Não acredito que em Portugal exista alguma estrela que se veja tão bem do céu como esta. E este pode ser o pronúncio para que uma parte do sucesso futuro de Almeida passe pela história, pela memória, pela agricultura, pela caça e pesca, pelo turismo diferenciador e pelas fortificações que servem de suporte para a candidatura a Património Mundial da Unesco, mas também pela imaginação visionária de ficção, a tal que Eduardo Lourenço tão bem descreve. Curiosamente, ao fazer uma breve pesquisa sobre o potencial de Almeida para a Astronomia deparei-me com imensos especialistas na área de apelido “de Almeida”. Que rica coincidência! Obriguei-me a sair de Almeida noite alta para testemunhar com os meus olhos o “negrume” do seu céu e o “belo” que seria um festival de astronomia em Almeida. Outros com igual potencial negligenciaram esta aposta, poder ser que estes com outras vistas o agarrem. Mas não posso deixar de referir por fim o Sr. Pereira, o responsável do Picadeiro Real de Almeida. Sem dúvida a maior surpresa do dia e aquele que faz a diferença em qualquer lugar do mundo. Tornou o dia das minhas filhas particularmente único e inesquecível e fiquei com uma enorme dívida de gratidão que gostaria que ecoasse não apenas pelo Côa mas por todo o Mundo. É para além de um mestre na arte do receber um conhecedor dos imensos pormenores que passam ao lado dos comuns, até como eu. Antes de perguntarem opinião aos de fora sobre o que Almeida pode dar ao Mundo, atentem aos de casa, especialmente a estes que não sendo de Almeida a conhecem até às “entranhas”. Eu não tive oportunidade de conhecer Almeida nos seus pormenores mas as minhas filhas tiveram e isso é que conta para entusiasmarmos os jovens a olharem para este dito interior de baixa densidade. A sorte que elas tiveram…A atenção toda do Sr. Pereira. Eu fui falar de “Almeida….A Alma da Agricultura que eCôa”…eu devia ter falado era das virtudes de uma árvore, "Pereira", aliás muito parecida com o Mostajeiro, não apenas para a Agricultura mas para o futuro de Almeida. No futuro, sempre que for a Almeida, visitarei a D. Manuela, mas não posso deixar de passar no Sr. Pereira no Picadeiro D´El Rey, aliás este nome já nos é familiar, as minhas filhas desde que se conhecem passam férias nas Pedras D´El Rey.
Um enorme Bem-haja pelo convite e pelo dia bem passado.domingo, 25 de setembro de 2016
ALMEIDA…Alma de uma Agricultura que “eCôa”...por voz de um cardo, do mostajo... e de um Pereira...
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