Árvores Ornamentais do
Património Florístico de Viseu,
Lançamento
no Museu Grão Vasco, 08.11.2014
É com uma enorme honra e ao mesmo
tempo com sentido de responsabilidade que aceitei ser o “padrinho” desta obra,
que a amiga Leontina (permita-me tratá-la assim) acaba de lançar, ainda mais
num palco destes como o Museu Grão Vasco. Acredito que a escolha do Museu Grão
Vasco, na sala do naturalismo, foi lugar mais apropriado para este evento. A
coincidência da simultaneidade com uma exposição de relevo nacional dedicada ao
Naturalismo da coleção Millenium, que convido todos a visitar, já é uma dádiva
dos deuses. Com isto dou os parabéns às Edições Esgotadas (Drª. Teresa Adão) por
terem acreditado neste desafio e ao Museu Grão Vasco (Dr. Agostinho Ribeiro e
Dr.ª Paula Cardoso) por terem acolhido sem reservas esta iniciativa.
A razão desta “comenda”, encontro-a no
respeito e admiração comuns que temos pelas árvores à qual acresce a admiração
que tenho pela autora.
Sobre a autora apenas dizer, que desde
que a conheço sempre se pautou por uma competência extrema, um rigor científico
de excelência, uma enorme sensibilidade e uma lealdade a toda a prova. Mas
muitos dos que aqui estão presentes conhecem muito melhor a Leontina do que eu
próprio. Uma coisa é certa, a Leontina não é apenas mais uma árvore na floresta,
mas é uma árvore que ajuda a fazer a floresta. Não pela opulência ou ostentação,
mas pela simplicidade e autenticidade, epítetos específicos que associados ao
género são extraordinariamente raros nos tempos que correm.
No seu percurso profissional estudou
os solos, as pastagens e forragens nas suas mais diversas vertentes e culminou nas
árvores. Este é o percurso integrador e vertical que deve ser incentivado na
sociedade e que ajuda a criar pontes e a estabelecer uniões onde por vezes
apenas vemos desarmonia, traição inveja, onde a Olaia (Cercis siliquatrum L.) com todo o seu simbolismo religioso procura
apontar. Mas desde sempre foi olhando para as árvores, com curiosidade e
admiração, admiração de respeito, mas também admiração de tentar procurar
explicações para saber… porque este ano a Lagestroemia
quase não floriu, ou porque simplesmente caem as folhas. Enfim! admirações por
vezes tão simples que passam despercebidas ao comum dos mortais e que são
aquelas que encerram maiores dificuldades na sua explicação.
Explicar as coisas simples de uma forma
que as crianças entendam e que fiquem com um brilhozinho nos olhos é um dos
papéis mais difíceis que cada um de nós pode desempenhar e são raros os
comunicadores que o conseguem fazer.
Cometo uma inconfidência, ao referir
que muito recentemente tivemos um almoço extraordinariamente agradável, pautado
pela sensibilidade, pelos ritmos e pausas da Leontina, onde fui um “escutador”
atento (…um papel que desempenho raramente, mas que estou a aprender) procurando
buscar pontos onde cerzir algumas linhas para enquadrar a obra e a inspiração
da autora.
Esta é uma obra que é um presente, nos
vários sentidos da palavra, mas acredito que irá perpetuar e lançar projetos de
futuro na cidade, assim os atores o queiram, no que respeita à valorização do
património arbóreo, no ambiente, na ciência, na arte e na cultura que podem ter
repercussões económicas, hoje tão em voga. Mas acima de tudo que seja uma obra
que desperte a sensibilidade e o respeito por estes elementos vivos que gravam
cada momento num registo dendrológico, como que de uma memória se tratasse,
recordando que árvores como a Gingko (Ginkgo
biloba L.) são guardiãs deste planeta desde tempos imemoriais.
As árvores não têm nervos…mas têm
nervuras que são linhas de vida, que nutrem formas e definem limites e que por
isso marcam sentimentos, um pouco ao jeito das linhas escritas alimentadas pela
“seiva” da inspiração da autora que fez sair do prelo esta obra. Acredito que irá
ajudar a cumprir o provérbio Chinês que diz “se queremos dez anos de
prosperidade cultivemos árvores, se quisermos cem anos cultivemos as pessoas”…Acrescento,
…se cultivarmos as pessoas acerca das árvores acredito que daremos o sinal que
queremos a eternidade.
A idade das senhoras não se pergunta,
mas o seu berço explica muito do arreganho, da tenacidade e da inspiração. Quem
nasce no Souto, estava predestinada a escrever um livro sobre árvores, quiçá
majestosas e sobre os encontros que temos com elas (Meetings with Remarkable Trees – Thomas Pakenham). Os castanheiros
que preencheram a sua memória paisagística, como “árvore titânica que trava a
erosão da Beira e que confere aos soutos uma mancha cromática de múltiplos
tintos outonais” são uma dessas árvores majestosas que tutelou e continuou a
acalentar até na vida profissional com a criação da coleção de castanheiros da
Estação Agrária. Mas esta é também uma daquelas árvores que une as gerações e
que Aquilino Ribeiro, tão bem mostra essa capacidade “castanheiro leva cem anos
a nascer, cem anos a chegar ao estado adulto, cem anos a crescer, cem anos no
seu ser e cem anos a morrer. Que importa? os homens de boa vontade perpetuam-se
nos filhos e vindouros”.
A autora faz breves referências à sua
obra considerando eu que a leitura de Aquilino Ribeiro é um óptimo complemento
à obra hoje aqui apresentada. Ao referenciar e citar Aquilino Ribeiro, importa
dizer que foi o mestre que mais me ensinou e continua ensinar sobre as árvores
e as paisagens e que me tem inspirado nas curtas e singelas deambulações que
tenho realizado por esses domínios. A geografia sentimental é uma das obras que
mais admiro. E por falar em geografia aproveito para lançar um repto de se
fazer uma exposição sobre um outro enorme mestre Orlando Ribeiro, o maior
geógrafo Português que tem raízes em Viseu e que julgo que seria justo não
apenas como tributo, mas como ato de cultura e de perspectivar o futuro de
Viseu enquanto representante de uma região.
Nas suas memórias de infância, a
autora recorda-se dos Plátanos da sua aldeia que os viu crescer e que quando
regressa a casa os pretende abraçar. Só que a tal falta de sensibilidade,
muitas vezes de origem politica, os derrubou ficando um vazio no largo da
aldeia e na sua memória que já não será preenchido. Há ao invés, pessoas que
plantam árvores aquando do nascimento dos filhos. Imaginem só a relação de
afectividade que se cria com essas árvores. Este é na minha opinião um dos
gestos mais bonitos que podemos ter para com uma árvore e para com uma família.
Aquilino dizia “Quando chego, o
meu primeiro olhar é para a sua ramagem, o especioso. Um olhar que lhes fala: —Bons dias, bons dias! Bonitas! Depois,
outro para os fustes: — O que vocês
cresceram! Daqui a pouco já as não posso abraçar a expandidos braços.
Verdade, mais uns anos e bem de junto as não abraçarei. Receberão os abraços
dos meus filhos…”
Nesta sala do Naturalismo, um dos
ciclos de referência na pintura no qual o campo e as paisagens detinham
superioridade moral em relação à cidade, encontrei várias referências da minha
memória, como a Paisagem Algarvia de Laranjeiras (Falcão Trigoso), o claustro
da Sé Velha (António Carneiro), a ovelha (Tomás de Anunciação). Nesta cidade
queremos ter um exemplo de cidade jardim, na qual o ambiente rural possa estar
presente a diversos níveis, e para isso temos que ser inteligentes e audazes na
forma como podemos interpretar esta visão e este querer. Mas isso ficará para
palestras futuras…
(Com frequência o naturalismo, pode
ser confundido com o naturismo, mas no caso acredito que a obra pode vir a ter
um papel de relevo… NoTurismo da cidade
de Viseu)
Espero que este momento e esta
oportunidade concedida possa permitir no futuro que a Escola Superior Agrária
de Viseu, tal como a Estação Agrária de Viseu, que são escola de culturas na
verdadeira acepção da palavra possam saber aproveitar a oportunidade para aliarem-se
à cultura da Arte e da Escrita em colaboração com instituições de referência na
cidade e na região como o caso do Museu Grão Vasco.
Como escreveu Booker T. Washington "Ninguém pode prosperar até que aprenda que é tão digno lavrar um campo como escrever um poema". Tenho a certeza absoluta que nos cabe a nós provarmos a relação dessa dignidade, também em parceria com outras instituições de ensino superior da região e com todas aquelas ligadas direta ou indiretamente com a agricultura.
Como escreveu Booker T. Washington "Ninguém pode prosperar até que aprenda que é tão digno lavrar um campo como escrever um poema". Tenho a certeza absoluta que nos cabe a nós provarmos a relação dessa dignidade, também em parceria com outras instituições de ensino superior da região e com todas aquelas ligadas direta ou indiretamente com a agricultura.
A sensibilidade cultiva-se muito pela
leitura, pelo olhar mais do que pelo ver e pelo pormenor. A obra agora deixa de
ser da autora e passa a ser de cada um de nós que a adquiriu e caberá a cada um
saber encontrar as suas interpretações, as suas memórias, tendo cada folha
deste livro o papel de uma semente que depois de germinar passará a contar a
sua história. Não tenho o dom da Leontina de escrever livros sobre tantas
árvores, resta-me em jeito de testemunho deixar um livro em branco e uma folha
de uma das árvores que mais admira pelas referências que faz no livro onde
poderá expressar toda a sua sensibilidade. O Liriondendron tulipifera, arvore-do-ponto nos tempos de Coimbra que
quando entrava em floração era sinal que nos tínhamos que agarrar aos livros.
Agora vamo-nos agarrar a este.
Muitos parabéns!
Paulo Barracosa
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