A incidência do cancro cortical e
a disseminação dos seus agentes causais são particularmente graves quando as
condições climáticas são favoráveis à ocorrência da infecção e ao desenvolvimento da doença. Assim, a incidência
da doença é maior em zonas onde ocorrem chuvas e períodos de humidade relativa
elevada coincidentes com as épocas de frutificação do fungo e existência de
novo inóculo (de Fevereiro a Junho e de Setembro a Novembro). Durante o
Inverno, devido às baixas temperaturas, e especialmente no Verão, quando a
humidade é baixa, assiste-se a uma redução da incidência e da evolução da
doença. Apesar de a esporulação de S.
cardinale ocorrer sobretudo na Primavera e no Outono, a disseminação dos
conídios pode ter lugar durante todo o ano independentemente da temperatura e
desde que haja precipitação.
De facto, entre os factores que
favorecem a disseminação dos agentes causais do cancro dos ciprestes destaca-se
a água da chuva, porquanto contribui para a dissolução das massas de conídios e
para a sua dispersão na planta bem como para plantas vizinhas. Os conídios
arrastados por acção da chuva a partir dos acérvulos que se diferenciam sobre
os cancros causam infecções sucessivas no tronco e nos ramos que se encontram
nos níveis mais baixos, fazendo com que as árvores afectadas exibam,
progressivamente, maior número de ramos mortos nas partes média e basal da
copa. A resina, ao escorrer ao longo do tronco e dos ramos, tem um papel
semelhante ao da água, arrastando os esporos e contribuindo para que estes se
mantenham viáveis por mais tempo. A existência de lesões ao nível dos ramos e
dos troncos é também importante para a ocorrência da doença, pelo que os
ciprestes sujeitos a desramações ou podas, bem como os plantados com compassos
apertados, sobretudo em zonas ventosas, estão mais sujeitos a ataques de cancro
cortical. A disseminação de Seiridium
spp. pode ocorrer por meio de insectos, nomeadamente alguns coleópteros do
género Phloeosinus Chap. (designados
de hilésinas), que atacam as árvores enfraquecidas devido a períodos de secura
ou qualquer outro factor de stress, escavando galerias quer no tronco quer nos
ramos. Estes insectos transportam os esporos de Seiridium spp. aderentes à parte exterior do corpo, tornando-se
assim importantes vectores da doença, ao depositarem os esporos nas árvores
onde se alimentam e depositam os ovos. Estudos recentes (Ramos & Abrantes,
2000; Roques et al., 1999) parecem indicar que alguns insectos que se alimentam
de sementes, como Orsillus depressus
Dallas e O. maculatus (Fieber), podem
desempenhar um papel importante na disseminação dos esporos de Seiridium spp. entre gálbulos infectados
e gálbulos sãos. Quando estes insectos, sobretudo os adultos, voam até árvores
não infectadas podem depositar de um modo passivo os esporos sobre os frutos,
contribuindo assim para aumentar o inóculo potencial presente sobre a árvore. A
utilização de plantas oriundas de viveiros ou de plantações onde a doença
existe constitui também um grave risco para a disseminação de Seiridium spp., já que os sintomas
poderão não ser ainda evidentes mas a infecção já ter ocorrido. Do mesmo modo,
o uso de sementes colhidas em árvores doentes promove a dispersão dos agentes
causais do cancro dos ciprestes. A susceptibilidade das diferentes Cupressáceas
ao cancro é variável. Para além do cipreste comum e do cipreste do Buçaco
também o cipreste do Arizona (Cupressus
arizonica Greene) e o cipreste da Califórnia (Cupressus macrocarpa Hartw.) são susceptíveis. Outras cupressáceas
como Chamaecyparis lawsoniana (Murr.)
Parl., x Cupressocyparis leylandii
(D. & J.) Dallim., Juniperus communis
L. e Platycladus orientalis (L.)
Franco são, de igual modo, susceptíveis a S.
cardinale. O cancro dos ciprestes pode assumir aspectos muito graves, provocando
a morte de um elevado número de árvores, como tem vindo a suceder em Itália, na
província de Florença, onde a incidência da doença já excedia os 70% em 1991
(Panconesi & Raddi, 1991). Na Grécia a situação é também grave, referindo
Xenopoulos (1991) que, em povoamentos com 20% das árvores afectadas, se
verifica um incremento da doença da ordem dos 5% a 15% por ano. À semelhança do
ocorrido em toda a Europa e nos EUA com a grafiose dos ulmeiros, do que está a
acontecer em Itália, Espanha e França com o cancro azulado do plátano, também o
cancro cortical dos ciprestes é uma doença que representa uma séria ameaça à
continuidade desta essência na paisagem mediterrânea.
O CANCRO CORTICAL DOS CIPRESTES
Paula Ramos e Filomena Caetano Instituto Superior de Agronomia e Laboratório de
Patologia Vegetal “Veríssimo de Almeida”
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