"Parques, Parcos & Porquês…
Este é um tempo
novo ao qual nos podemos e devemos adequar por obrigação, mas também
naturalmente por opção. É um tempo de olharmos em proximidade, não por piedade,
mas por inteligência estratégica. Não numa lógica de simples retrocesso, com
base “no que era antes é que era bom” mas num desafio de futuro. É um tempo de
coesão e não de desunião, em prol da definição de uma estratégia que alimente o
futuro. É um tempo de critério e não um tempo de vale tudo. Pretendemos, acima
de tudo, que na avaliação final estejamos convictos que ganhamos no conjunto,
independentemente dos novos equilíbrios que se venham a estabelecer, no
ambiente, na economia e na coesão social e territorial. Temos sentido uma
vontade inata de podermos ajudar aqueles que estão mais perto, e com um
sentimento emocional acrescido de entreajuda, muito em particular, às pessoas e
estruturas associadas direta ou indiretamente com a agricultura que nos alimenta
o corpo e a esperança. Seja nas estruturas com génese numa agricultura
familiar, sejam em relação às queijarias de cada uma das regiões de Denominação
de Origem Protegida ou produtores ligados ao setor do vinho, bem como a todos
os demais setores com relevância nas diversas regiões. Por isso, adquirimos
produtos para consumo próprio e para dar a provar aos amigos. Até porque muitos
dos produtos de qualidade excecional das nossas redondezas, muitas vezes não
chegavam à nossa mesa, pelo menos com a frequência que gostaríamos, porque
estavam destinados para outros. Procuremos ser os melhores embaixadores destes
territórios e das suas gentes, seja do Queijo Serra da Estrela, do vinho do
Dão, dos enchidos da Beira Alta onde se incluem pérolas como as “urtigueiras”,
sejam das simples iguarias agrícolas que ajudam a preservar e valorizar as
variedades tradicionais. Saibamos ver os excelentes exemplos que já existiam
como o da Câmara de Fornos de Algodres, através de uma plataforma de
comercialização, amenizando custos aos consumidores e produtores, acima de tudo
pelo ganho de escala e otimização de recursos. Também na área do Ambiente
existem grandes desafios e oportunidades. Porventura, agora poderá ser o
momento de aproveitarmos e valorizarmos os parques e praias fluviais que foram
criadas nos territórios de interior, e que ajudam a promover o bem-estar físico
e psíquico em distância social em detrimento das “romarias” para os centros
comerciais” ou para as praias. Talvez recuperemos os hábitos saudáveis de “pic-nicar”
em família ou com amigos com as tais iguarias regionais, alindadas com primores,
nossos, feitos de forma mais tradicional em fornos de lenha ou de forma mais
facilitada na “bimby”. As cidades e vilas do interior, talvez possam deixar de
copiar tantos os grandes centros e criar infraestruturas, com maior identidade,
radicadas num historial de gerações que viu e fez crescer tamanhas tradições.
Criar rotas culturais de descoberta, onde para além das paisagens, e das
iguarias gastronómicas, tenhamos contacto com as gentes que estoicamente se têm
mantidos nesses territórios e que, por isso mesmo, por vezes possam parecer um
pouco “rudes” no primeiro contacto, mas que ganhado a sua confiança se tornam
amigos desde o princípio. No passado, os nossos “inimigos” vinham por terra e
estas gentes eram aqueles que primeiro davam alerta, o “corpo às balas” e que
nos defendiam. Estas estratégias de promoção territorial devem ser delineadas
ao nível supramunicipal para que possam ser integradas, e promovidas
conjuntamente e de forma mais eficaz. Mas sabemos que poucos são os casos de
sucesso nesta promoção conjunta. Talvez o Turismo do Centro, seja aquele que
melhor traduz o espírito de complementaridade e possa ser uma boa bandeira para
este novo desígnio. Ao nível municipal não esperemos que os políticos de ontem,
hajam hoje de uma forma distinta. Aqueles que nunca usaram a identidades dos
seus territórios e das suas gentes na promoção não o irão passar a fazer como
que por ilusionismo. Os outros que se reconhecem nas suas gentes, poderão ser
agora ouvidos de uma forma mais coerente e consequente. Esses, muito
provavelmente, delineiam e projetam parques urbanos recorrendo à massa crítica
da região, preservando a memória dos espaços, muitas vezes patente no
património arbóreo que vai resistindo estoicamente às agruras do tempo e aos “humores”
políticos. Os políticos, de um modo geral, salvo raríssimas exceções têm tido
uma relação pouco amistosa com as árvores e muito em particular na forma como estas
se articulam com projetos de requalificação urbana. A árvore, é normalmente um
elemento de inspiração para escritores e artistas, mas constitui-se um óbice
para a grande maioria dos autarcas. As que valiam a pena demoram muito tempo a
crescer, e os méritos perdem-se no tempo, e depois não sabemos enquadrar
devidamente o edificável com o natural, respeitando os momentos e as
“idiossincrasias” de cada elemento arquitetónico e de cada espécie arbórea. Por
isso, procuram-se fazer “eiras” nas praças do município em detrimento de se
aproveitar as árvores que possam ter crescido naturalmente em alguns espaços e
adotar essas árvores na lógica que se pretende para um parque urbano. Este
desenho é possível fazer quando o projetista tem carta branca do promotor o que
na grande maioria dos casos só é possível realizar com entidades privadas.
Sabemos que a retoma vai basear-se muito em obras públicas, e que as quantias
gastam é que contam, mais do que os objetivos que se pretendem com a obra. Por
isso, quanto maiores os orçamentos melhor, quando na prática podemos, com os
mesmos meios, multiplicar as realizações através de uma boa planificação e
critérios rigorosos e amplamente discutidos com aqueles a que se destinam em
primeiro lugar, os munícipes! Nesta fase de contração da produção parece
estarmos a assistir a alguma recuperação ambiental que será importante
monitorizar para percebermos se há algum novo equilíbrio que possamos encontrar
para prolongarmos os recursos naturais aumentando a qualidade de vida de uma
forma económica e ambientalmente sustentável. Nesse sentido temos vindo a
desenvolver programas de base ecológica que ajudem a reforçar identidades de
território como é o caso da preservação e valorização do rio dão. Os municípios
e organizações, muitas vezes, por inépcia e ausência de visão estratégica, têm
dificuldade em conseguirem retirar dividendos promocionais que se possam
traduzir em valorizações económicas em programas desta natureza. Este pode ser
o momento para com base em ações de voluntariado e programas bem delineados
possam fazer crescer um sentimento de promoção ambiental. Saibamos agarrar a
oportunidade! Este ano o mês de abril fez jus ao ditado popular “Abril, águas
mil”, não sabemos se por mera casualidade da estatística climática ou como
consequência de toda esta contração mundial. Por isso sido particularmente
favorável à produção de biomassa que nos lança grandes desafios para podermos
limitar a deflagração de incêndios rurais. Tal como na saúde na qual temos a
sensação que todas as outras patologias desapareceram, também a limpeza das
nossas florestas e das aldeias ficaram adiadas e acredito muito sinceramente
que vamos precisar da ajuda divina para não assistirmos a novas tragédias. Hoje,
estamos num tempo de enorme desconfiança de uns para com os outros e de grande
escrutínio das verbas públicas que se irão usar, por necessidade imperiosa!
Contudo, não nos deixemos contagiar por este sentimento evitando que se possa
alastrar por incúria dos nossos políticos na tomada de decisão do nosso futuro
estratégico seja na economia, ambiente ou coesão social e territorial."
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