quinta-feira, 9 de maio de 2024

A Arte de Domesticar o Silvestre e Olhar o Mutante

Sinopse - Atravessar a Paisagem II

Atravessamos novamente a paisagem e mantemos o intuito, relacionar e

interligar diferentes práticas artísticas e científicas, tendo como principal foco a natureza e a forma como nos relacionarmos com ela. Nesta edição a figura

humana invade o espaço e este corpo ocupa, reflete e sente. É precursor das

performances e crucial na escultura em cerâmica.

Os registos visuais foram inspirados no conceito Plant Blindness, termo

cunhado pelos botânicos James Wandersee e Elisabeth Schussler na

publicação Preventing Plant Blindness (1999). A “cegueira das plantas” é a

propensão humana de não ver as plantas, não as reconhecer, não as distinguir,

e de não entender a sua importância na biosfera e nos assuntos humanos. Ao

realizarmos pequenos exercícios de camuflagem e intervenções efémeras nos

espaços públicos, urbanos e verdes, debruçamo-nos sobre este tema. 

Na exposição, a mulher camuflada encontra a Mulher Silvestre, inspirada no

mito do Homem Selvagem, uma figura fabulosa do imaginário medieval,

complexo e por vezes contraditório, é aqui apresentada como um escape, uma

fuga para regressar à natura. Um ser sedutor e livre, que vive em estreita

harmonia com a natureza, capaz de suscitar curiosidade, admiração e respeito.

Nos registos realizados, a mulher camuflada por vezes destaca-se e outras

vezes integra-se e dissolve-se misteriosamente na paisagem. Por outro lado, a

mulher silvestre evoca o imaginário medieval e selvagem, muitas vezes

associada a narrativas folclóricas e mitológicas. Ambas carregam uma aura de

mistério, representam a harmonia entre o humano e o natural, ao mesmo

tempo em que mantêm uma certa distância e inacessibilidade.

Nesta publicação, Rui Macário apresenta um cruzamento de breves

narrativas históricas com saberes populares. Um registo que retrata como as

relações com as plantas se foram alterando ao longo dos tempos.

Paulo Barracosa, na sua comunicação, apresenta uma variedade de formas

de vida encontradas na paisagem, com destaque para o cardo (Cynara

cardunculus L.) espécie que, curiosamente, está associada às representações

do Homem Selvagem durante a época medieval. Aqui, dá-se a conhecer ao

público em geral as vocações e a multifuncionalidade do Cardo, aliam-se

testemunhos empíricos ao conhecimento científico, traduzidos em ideias e

conceitos que privilegiam a promoção da sustentabilidade e a bioeconomia

circular de um território.

Apresentamos assim a concretização do elo entre diferentes elementos

artísticos e científicos, que almejamos poderem contribuir para uma nova

formulação do mundo natural.

































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