Sinopse - Atravessar a Paisagem II
Atravessamos
novamente a paisagem e mantemos o intuito, relacionar e
interligar
diferentes práticas artísticas e científicas, tendo como principal foco a natureza
e a forma como nos relacionarmos com ela. Nesta edição a figura
humana invade o espaço e este corpo ocupa,
reflete e sente. É precursor das
performances
e crucial na escultura em cerâmica.
Os
registos visuais foram inspirados no conceito Plant Blindness, termo
cunhado
pelos botânicos James Wandersee e Elisabeth Schussler na
publicação
Preventing Plant Blindness (1999). A “cegueira das plantas” é a
propensão
humana de não ver as plantas, não as reconhecer, não as distinguir,
e
de não entender a sua importância na biosfera e nos assuntos humanos. Ao
realizarmos
pequenos exercícios de camuflagem e intervenções efémeras nos
espaços
públicos, urbanos e verdes, debruçamo-nos sobre este tema.
Na
exposição, a mulher camuflada encontra a Mulher Silvestre, inspirada no
mito
do Homem Selvagem, uma figura fabulosa do imaginário medieval,
complexo
e por vezes contraditório, é aqui apresentada como um escape, uma
fuga
para regressar à natura. Um ser sedutor e livre, que vive em estreita
harmonia
com a natureza, capaz de suscitar curiosidade, admiração e respeito.
Nos
registos realizados, a mulher camuflada por vezes destaca-se e outras
vezes
integra-se e dissolve-se misteriosamente na paisagem. Por outro lado, a
mulher
silvestre evoca o imaginário medieval e selvagem, muitas vezes
associada
a narrativas folclóricas e mitológicas. Ambas carregam uma aura de
mistério,
representam a harmonia entre o humano e o natural, ao mesmo
tempo
em que mantêm uma certa distância e inacessibilidade.
Nesta
publicação, Rui Macário apresenta um cruzamento de breves
narrativas
históricas com saberes populares. Um registo que retrata como as
relações
com as plantas se foram alterando ao longo dos tempos.
Paulo
Barracosa, na sua comunicação, apresenta uma variedade de formas
de
vida encontradas na paisagem, com destaque para o cardo (Cynara
cardunculus
L.)
espécie que, curiosamente, está associada às representações
do
Homem Selvagem durante a época medieval. Aqui, dá-se a conhecer ao
público
em geral as vocações e a multifuncionalidade do Cardo, aliam-se
testemunhos
empíricos ao conhecimento científico, traduzidos em ideias e
conceitos
que privilegiam a promoção da sustentabilidade e a bioeconomia
circular
de um território.
Apresentamos
assim a concretização do elo entre diferentes elementos
artísticos
e científicos, que almejamos poderem contribuir para uma nova
formulação
do mundo natural.
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