domingo, 11 de dezembro de 2011

Diversificar a "fecundidade da Cultura"...Escrita, Genética e Agrícola



http://goncalomtavares.blogspot.com/
Não sendo "adepto" incondicional do Prof. Marcelo, foi no seu programa que me baseei para esta crónica, depois de ter ouvido a pequena conversa com o escritor Gonçalo M. Tavares. Não sendo um leitor inveterado, aliás muito pelo contrário, a primeira vez que vi este escritor foi num documentário recente com o filósofo Eduardo Lourenço, do qual aliás, fiz aqui eco. Mas qual o assunto que me despertou a atenção, nesta entrevista? O "móbil" da sua escrita, a força da escrita, que radica na forma como as letras se associam na palavra e na mensagem. Ora foi nem mais nem menos o que tentei aludir numa comunicação que proferi no IX Encontro Micológico da ESAV com o título o “Código Genético do Cogumelo”. Os códigos que conhecemos e que nos condicionam em larga medida, são definidos por um conjunto muito limitado de elementos (2,3,4) que se associam de forma polimerizada para formarem as mensagens complexas que determinam tudo, desde a vida, através do DNA, RNA e Proteínas, as cores primárias, o código binário, entre outros, todos eles com um papel fundamental na história da evolução das espécies e das sociedades. Olhando para a dimensão do código do Alfabeto podemos ter a noção da sua complexidade e ao mesmo tempo da sua força…a força da palavra. E aí vemos a nossa limitação na forma como construímos a nossa mensagem, muitas vezes parca de conteúdo, perdendo a oportunidade e o efeito. Por vezes ter o dom da palavra é pouco, é preciso dominar a escrita e saber propalá-la. No campo da genética se eu falar em “tradução”, reporto-me a uma das fases do dogma Central da Biologia Molecular que foi descrito em 1958 por Francis Crick na tentativa de relacionar o DNA, o RNA e as proteínas. O DNA pode-se replicar e dar origem a novas moléculas de DNA, pode ainda ser transcrito em RNA, e este por sua vez traduz o código genético em proteínas. Como em tudo na vida nem os dogmas são imutáveis e existiram algumas descobertas posteriores que não coincidiram com a mensagem expressa neste Dogma: O RNA pode sofrer replicação em alguns vírus e plantas; O RNA viral, através de uma enzima denominada transcriptase reversa, pode ser transcrito em DNA; O DNA pode diretamente traduzir proteínas específicas sem passar pelo processo de transcrição, porém o processo ainda não está bem claro. De que forma é que esta actualização dos dogmas pode-nos abrir perspectivas na forma como abordamos a escrita e a mensagem implícita. Há no processo genético aquilo que designamos, mas não dominamos, o splicing alternativo, ou o processamento alternativo, que se baseia no facto de um só gene poder conduzir à formação de várias proteínas, em diferentes locais com consequentes funções distintas, através da eliminação aleatória de exões, apenas na ordem sequencial. Esta novidade surgiu com a descoberta de que afinal temos poucos genes, 25 000 em vez de 100 000 anteriormente previstos, tantos como a planta mais simples, a Arabidopsis thaliana, e apenas o dobro da Drosophila melanogaster. A síntese proteica, sendo um dos processos fundamentais para a expressão das características é um processo muito limitado, quando comparado com a escrita. Aliás, é como apenas usássemos apenas palavras com três letras. Já repararam se transpuséssemos este modo de processamento para a escrita. Fazendo um exercício simples, os codões que conduzem ao "fabrico" dos aminoácidos, são constituídos por 3 letras com a possibilidade de formarem 64 codões,  parecendo ser na verdade 21 codões com alguns sinónimos. Se usássemos a palavra AMOR com estas letras poderiamos formar 264 palavras, sem falar da utilização de assentos, como "Romã". É certo que muitas não teriam significado aparente na nossa línguagem, mas e nas outras línguas? Usarmos este processo no marketing, por exemplo para tirar o título de "cidade do amor" a Paris e atribuí-lo a Roma com toda a propriedade, porque está na sua génese. Depois há o tempo e a oportunidade da palavra. Apenas dois exemplos recentes. Perguntado ao Miguel Júdice se era candidato à Câmara de Coimbra, ele respondeu, «só noutra "Encarnação"». E quando questionado o Mário Soares sobre se usava o Facebook, respondeu « Isso é para a minha NETa». Para entendedor meia palavra basta. Podemos e devemos criar exclusivamente num sentido, ou em certos casos poderemos criar ao invés, ateé do próprio splicing. No mundo de hoje, em que tudo é colocado em causa, temos a liberdade de poder criar de novo, com todo o risco e ambição que esta mensagem possa conter.
P.S. esta mensagem será enviada para o escritor Gonçalo M. Tavares e disso darei eco, com a promessa de a breve prazo, ler a sua obra, não com brevidade, mas com a concentração necessária, numa leitura "sinuosa", por linhas e nas entrelinhas.

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