http://gazetarural.com/2016/03/16/gazeta-rural-n-o-266-15-de-marco-de-2016/
É tempo de ‘cuidar
da alma’ do Queijo Serra da Estrela
O queijo
Serra da Estrela (QSE) é um dos maiores patrocinadores das festas de
“província” das TVs, que supostamente ajudam a promover o que de melhor há no
mundo rural, desde que paguem, claro!
Esta é a
estratégia que cada um dos autarcas de per si apresenta como forma de
diferenciarem o seu concelho, no que respeita às suas gentes, produtos,
recursos e valências. Esta forma de pensar um todo às “fatias”, atinge o seu
zénite no lema “Cada um que siga o seu Concelho”. Para além de uma festa do QSE
por concelho, agora também um museu do QSE por concelho, um centro de
investigação do QSE por concelho, um concurso de queijo…. Que mais virá!
Eu bem sei
que o lema é ”O Centro é um pais dentro do país”, mas coloco a questão se não
haverá um Conselho Empresarial Estratégico do Centro para a valorização dos
recursos naturais, culturais e produtivos endógenos deste território e das suas
gentes que pensasse nos produtos premium desta região numa acção concertada de
valorização e promoção, aproveitando todo o saber técnico-científico e
capacidade produtiva que aqui radica, mas não só.
De volta ao
trabalho, e pensando em exclusivo no QSE, considero que a Confraria do Queijo
Serra da Estrela pode e deve assumir um papel mais activo nas questões
técnico-científicas relacionadas com este ícone do nosso território. Toda a
parte social e de "estandarte" são importantes para a promoção e
divulgação de um produto e, neste último capítulo, a entronização do actual
Presidente da República recolheu o afecto de muitos, até pela forma sentimental
como referiu estar ligado a este produto pelas raízes maternas.
Contudo, a
grande realização da confraria, este ano, foi levar a cabo, em conjunto com
outros parceiros, o concurso do Queijo Serra da Estrela e do
Requeijão que juntou cerca de 30 produtores de todo o território da DOP. Sendo
importante quem ganha, é motivo de regozijo saber que os prémios foram
distribuídos pelo território, o que revela que há produtores a trabalhar bem
por toda uma vasta região.
Em relação
ao futuro, entendo que a Confraria, com a rede que granjeou fruto de 27 anos de
actividade, pode desempenhar um papel técnico-científico em conjunto com a
EstrelaCoop, Beira Tradição, Ancose, DRAPCentro e todos os produtores que
estejam dispostos e sintam necessidade de algum apoio para melhorarem ainda
mais ou para debelaram alguns dos problemas com os quais se possam estar a
confrontar.
Eu desde já
me disponibilizo, estou certo, a par de muitos outros que estão não só na
região mas distribuídos por todo este Portugal em instituições de referência
que já integram esta rede. Uma rede de partilha de conhecimento e de vontade e
de ser consequente na busca de soluções.
No queijo
Serra da Estrela não podemos ter uma meia dúzia de excelências... e o resto.
Temos e podemos ser um exemplo a nível nacional e mundial na defesa, promoção,
transmissão de conhecimento e divulgação daquele que é, seguramente, um dos
melhores no mundo. É claro que é preciso o apoio político e aqui podem e devem
entrar as autarquias, as direcções regionais e o ministério da Agricultura,
procurando enquadrar e financiar projectos neste quadro comunitário de
importância crucial para o futuro do sector, desde a produção à comercialização
e muito em particular nos incentivos à instalação de novos produtores e no
controlo da qualidade do leite e do cardo.
Não nos
podemos é "sentar à sombra da bananeira". Isso já nos aconteceu em
muitos sectores em que fomos perdendo vigor e o reconhecimento a nível mundial
por perda desse património, genético, cultural, técnico científico e produtivo.
Isto não é nada de novo mas é preciso lançar este desafio de novo.
Eu faço uma
proposta para começar! A Ancose responsabiliza-se por arranjar um lote de leite
em volume suficiente para distribuir por um número significativo e
representativo de produtores das várias sub-regiões seleccionados pela
Estrelacoop/Beira Tradição. Os queijos daí provenientes irão ser escrutinados
no painel de provadores do Queijo Serra da Estrela e sujeitos a análises finas.
Acredito que poderá ser um bom começo para sabermos quem poderá estar com
algumas dificuldades e em que ponto teremos que actuar. Se a
"montante"...se a "jusante". Se na forma como as ovelhas Bordaleira
são alimentadas, nas práticas de ordenha e conservação do leite cru ou nos
modos de fabrico e cura. Irmos para o terreno, técnicos e investigadores,
monitorizarmos algumas das questões que julgarmos pertinentes, não numa atitude
fiscalizadora, mas muito pelo contrário, numa atitude conselheira e aberta ao
diálogo, procurando aprender de parte a parte em busca da excelência.
Acredito que
seria uma forma inclusiva de conhecermos melhor cada uma das realidades sem
estarmos contra ninguém e a favor de ninguém (onde é que já ouvi isto!). Com
certeza que tenho mais ideias e muitos outros terão ideias ainda mais válidas
que as minhas, mas este pode ser o momento.
Hoje, no
Queijo Serra da Estrela à semelhança da imagem do pastoreio, não nos podemos
dar ao luxo de deixar ficar alguém para trás.
Paulo
Barracosa
Docente da
Escola Superior Agrária de Viseu
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