domingo, 24 de novembro de 2024

Soalheira...e World Cheese Award...um caso de estudo




A Soalheira e, em particular, a Quinta do Pomar de Joaquim Duarte Alves está de parabéns por ter conquistado o Super Gold do World Cheese Awards realizado em Viseu. A Soalheira tem olho para o marketing porque usa a imagem do cardo em todos os queijos mesmo naqueles que usam coalho animal. E isso coloca algumas dúvidas sobre a real utilização da flor de cardo. No evento tive a oportunidade de falar com a família dos produtores que me confirmaram a utilização de flor de cardo provinda do Alentejo, embora o rótulo refira coalho animal e no site da própria queijaria não há qualquer referência à flor de cardo como agente coagulante. Muito provavelmente o queijo premiado terá sido produzido de modo específico para o concurso. No rótulo há a imagem de um "cardo" que não é o Cynara cardunculus, embora esta questão seja comum em outros rótulos ou sites de queijarias. Em relação ao leite é crú e proveniente de ovelhas da Serra da Gardunha das várias raças exóticas que por lá pastoreiam. E o queijo Serra da Estrela? terá ganho alguma reputação pelo facto da realização ter sido em Viseu, que tem duas freguesias que pertencem ao território DOP. E o território, as empresas e os municípios beneficiaram do investimento no evento? Espero bem que sim! Na edição dos 20 anos da Gazeta Rural escrevi algumas linhas sobre o modo como eu alvitrava que a região pudesse participar.

"Na última década o cardo e o Queijo Serra da Estrela (QSE) têm sido a minha reflexão mais assídua e a GR um dos seus maiores divulgadores e promotores. A propósito, o cenário onde pontifica o QSE DOP, que se apresenta de corpo e alma como uma das nossas melhores referências gastronómicas, servirá de mote para a realização do World Cheese Awards, em Viseu, como o maior evento mundial dedicado exclusivamente aos queijos. Este evento pelo seu mediatismo poderá servir como momento charneira para toda a fileira do QSE que, a par de outras ações como a recente candidatura a património imaterial Mundial da Unesco, pode guindar este ícone, definitivamente, ao Estrelato. Pelo investimento requerido e capacidade instalada no território esta realização deve assumir-se como um desafio para que possa ser uma montra na divulgação e promoção de todo um território, incutindo a criação de sinergias entre as mais diversas instituições, de modo que o investimento possa ter o retorno pretendido nos seus mais variados domínios e vertentes. O papel das Comunidades Intermunicipais e das Autarquias, especialmente da região QSE DOP, a par da Estrelacoop e dos produtores serão de vital importância na articulação e concretização de todo o plano que estará a ser gizado. O Instituto Politécnico de Viseu e a Universidade Europeia Eunice têm mostrado todo o interesse e disponibilidade em poderem contribuir para o sucesso do evento com a colaboração dos seus docentes, alunos e colaboradores, nos mais diversos domínios do saber, em articulação com os diversos atores procurando corresponder aos anseios dos seus promotores. Será uma ambição natural dos produtores QSE aproveitar o ensejo para garantir, ainda mais qualidade e sucesso que se traduzirá na classificação final do ranking. Será uma oportunidade de excelência para dar a conhecer in loco aos jornalistas especializados das mais diversas geografias e ao público em geral toda a capacidade e complexidade dos processos de fabrico com garantia da origem e qualidade dos ingredientes como o leite de raças ovinas autóctones (Serra da Estrela e Churra Mondegueira), flores de cardo e sal. É, ainda, desejável aproveitar o ensejo para mostrarmos a capacidade de promover e divulgar a cultura de um território “Estrela” no estabelecimento de projetos de parceria entre instituições, empresas, artesões e associações dispersas no território onde pontificam um conjunto de indústrias relacionadas, direta ou indiretamente, com a fileira do QSE e onde o burel se assume como um dos expoentes. Temos de ter a audácia de criar projetos com raízes que possam vir a frutificar de forma perene no futuro e estimular artistas plásticos para usarem a fileira do QSE como fonte de inspiração nas suas criações. A par dos argumentos apontados pelos promotores para a escolha de Viseu, a ligação da cidade ao guerreiro pastor Viriato será seguramente uma imagem simbólica na promoção do evento, permitindo evocar a história imemorial destes territórios aos cenários de pastagens naturais onde tudo começa e usar a transumância como elemento de animação. Acredito que a Confraria do Queijo Serra da Estrela poderia ter um papel interventivo com a realização de um capítulo extraordinário que pudesse congregar todas as confrarias nacionais e internacionais para enaltecer o evento e tornar este um momento único de confraternização e promoção de todos os queijos em uníssono. Pela dimensão e amplitude do evento seria desejável a existência de um(a) Comissário(a) para coadunar todas as vertentes que possam vir a estar envolvidas e deste modo amplificar o sucesso do retorno e para que todos aqueles que nos visitem possam levar na memória os saberes e os cenários onde são criados os Queijos Serra da Estrela e todos os produtos DOP da fileira onde se incluem o requeijão e o borrego Serra da Estrela."

E o IPV/Eunice? procurou apoiar o evento com voluntários e através do PRR BCheeSE com uma comunicação de promoção do Queijo Serra da Estrela DOP e...ainda pagou por isso. Nem convidados para provadores fomos! Parabéns aos organizadores que foram aqueles que mais ganharam com o evento.











































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