sexta-feira, 5 de janeiro de 2018

Para sabermos Valorizar o Património Arbóreo sob ponto de vista Natural e Escultural…é preciso alguma sensibilidade

Estes exemplares de palmeiras que estão a ser abatidos assumiam-se como elementos arquitetónicos da memória de Viseu num espaço tão nobre como o jardim de Santa Cristina, onde pontifica a estátua de um dos mais ilustres “viseenses”, o Bispo D. Alves Martins. Por isso, entendia que tudo deveria ser feito para tentar manter e recuperar a memória destes elementos. Contudo, existem limites de segurança dos cidadãos e salvaguarda do bem público que não podem ser ultrapassados.

A questão do abate destes exemplares é a primeira situação que equacionamos por questões de segurança e pelo eventual foco de disseminação que a sua manutenção pode constituir. Acresce-se o facto de ser uma zona de grande centralidade e visibilidade pública com riscos acrescidos.

Se entendermos que as questões biomecânicas e fitossanitárias possam estar acauteladas, e para isso era necessário retirar as folhas secas e fazer o corte completo da zona da coroa, poderíamos ponderar algumas situações no sentido de tentarmos valorizar estes exemplares enquanto elementos arquitetónicos, que na verdade o são. Não são uma das sete torres de Viseu, mas convenhamos são elementos esculturais e culturais que têm inegável interesse e então perguntem a críticos de arte da nossa cidade com renome mundial.

Uma das propostas que poderia ser avaliada era plantar uma palmeira jovem no cume do espique, depois de removidas todas as folhas secas e a coroa, desde que estivesse salvaguardada a segurança do espique da palmeira. O objetivo era procurar recuperar um aspeto vivo, através do crescimento de folhas ainda que jovens, sendo que o seu desenvolvimento teria que ser monitorizado de forma muito estreita. Obviamente as raízes da palmeira nunca iriam atingir o solo e procurar-se-ia que existisse um compromisso de modo a que a “nova” palmeira nunca atingisse uma dimensão assinalável o que seguramente não viria a acontecer, mas que pudesse atingir 2 m de diâmetro da “copa”.

Uma segunda proposta consistiria na instalação de plantas epífitas que pudessem adornar de uma forma natural a zona da coroa do espique com a vantagem de não fazer tanto peso no topo do espique, comparativamente com a opção anterior, sendo que teria que ser uma espécie que proporcionasse algum volume de massa vegetal.

A terceira hipótese e a mais simples, considerando a manutenção da palmeira seria deixar que a hera (Hedera helix) preenchesse toda a zona da coroa, procedendo à prévia retirada das folhas secas e da coroa.

No caso destas palmeiras da Santa Cristina poder-se-ia concretizar alguma destas ideias com relativo sucesso e segurança, porque existia um “exoesqueleto” de Hedera helix, que conferia uma enorme sustentabilidade ao espique da palmeira.

Esta é a contribuição de algumas ideias, nunca antes aplicadas, que comportam riscos assumidos mas que poderiam adiar por algum tempo uma situação limite como aquela que assistimos. Relembro que caso houvesse um entendimento de atuar nalgum destes cenários propostos, seria necessário realizar uma avaliação do estado biomecânico e fitossanitário aquando da retirada das folhas e do corte da coroa, que será sempre a primeira ação a realizar, mesmo considerando a situação de abate. Uma outra questão de grande relevância era garantirmos que estes exemplares não constituam focos de disseminação do escaravelho da palmeira (Rhynchophorus ferrugineus).

Pudemos confirmar agora que o espique da palmeira estava em muito boas condições fitossanitárias e por isso teria uma larga longevidade em termos estruturais e não não teria qualquer dúvida em arriscar qualquer uma das opções sugeridas que não o abate. Contudo, tenho que respeitar a opção de quem tem responsabilidade política.

Preocuparam-se em que saísse primeiro a nota de imprensa nos jornais regionais antes de avançar com a intervenção. Provavelmente se avancem para as outras opções apareceriam em jornais ou revistas de renome mundial na área da jardinagem e arquitetura paisagista. Também é uma questão de opção. Curioso é apostarem tanto em paredes e coberturas vegetais criadas artificialmente e agora que tinham uma oportunidade de criar uma natural, abdicaram, não lhes é natural arriscar. Ainda ontem estimulava os meus alunos a arriscarem, aos adultos já não o faço!

Sempre tenho dito para aproveitarem o material vegetal proveniente de podas e quedas de exemplares para criarem produtos de arte, design e artesanato. Agora com tantos troncos de Hera podem dar ao artesão que costuma estar à porta da câmara a fazer "esculturas" de raízes, ou então vai tudo para o Planalto....

“Ever tried. Ever failed. No matter. Try again. Fail again. Fail better.”
Samuel Backett

https://booksonthewall.com/blog/samuel-beckett-quote-fail-better/























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