segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

A Carne Maturada, o Dry Aged e o desconhecimento em alguma restauração.... que se quer de excelência...

Não tenho por hábito "espetar" neste blogue o que como ou deixo de comer. As excepções vêm com algum propósito,... como este. Neste fim de semana fomos jantar a um sítio conhecido cá do "burgo" e foi-nos servida um prato de carne que nem estava nenhuma especialidade. Não deve ter sido comprada num sitio que eu cá sei e "marco" como referência. A primeira colaboradora que estava a servir, à pergunta que carne era? respondeu... "de vaca", o que era óbvio. Já o segundo disse que era carne maturada com 60 dias. Era bom que o restaurante desse a comer aos seus colaboradores carne maturada com 60 dias "Dry aged" para eles provarem.

A maturação da carne é um processo enzimático natural de amaciamento da carne em condições de temperatura controlada (acima do ponto de congelamento), que inicia após o rigor mortis (rigor cadavérico - estado de extrema contração muscular que atinge seu ponto máximo cerca de 15 horas após o abate) . O tempo de maturação pode variar de 7 a 28 dias após o abate, de acordo com o corte e o resultado pretendido.

O objetivo da maturação é melhorar o sabor, a suculência, o odor e, sobretudo, a macieza da carne.

Durante o processo a carne deve ser embalada a vácuo, para retardar o crescimento de bactérias aeróbicas putrefativas e favorecer o crescimento das bactérias láticas, que, por sua vez, produzem substâncias antimicrobianas. Curioso são as bactérias lácteas estarem também no Queijo Serra da Estrela e o cardo ter enzimas proteolíticas para quebrarem proteínas. Pode ser que surja algum projeto no futuro! Lembro que o malte da Guiness é usado para maturar Hambúrgueres, uma ideia pensada by Ricardo Pires with Kettyle irish foods (http://www.kettyleirishfoods.com/)

As enzimas responsáveis pelo processo de amaciamento são enzimas endógenas, já estão presentes na carne do animal. As principais enzimas são as calpaínas e as catepsinas, capazes de hidrolisar as proteínas miofibrilares. Já a enzima calpastatina inibe a ação das calpaínas. Animais com altas concentrações desta enzima possuem a carne menos macia.

Atualmente existem marcadores moleculares quer na área da bioquímica, genómica e transcritómica capazes de detetar a presença dos genes que irão codificar a produção destas enzimas. Há ainda marcadores para a questão da gordura intramuscular que é uma característica igualmente extremamente importante para valorizar as características da genética e do melhoramento animal e da carne maturada.

Já o "Dry Aged" é um processo de maturação feito a seco, diferente do caso em que a carne é embalada em vácuo, neste caso a peça é exposta sem proteção numa câmara fria com temperatura controlada que varia entre e 0ºC e -2ºC até 60 dias!


O resultado é uma carne com sabor totalmente diferenciado e que atinge um nível do paladar chamado de “anami”, um excitador natural das papilas gustativas e que se encontra entre o doce e o salgado. 


Estas fotos são de carne maturada em vácuo com 28 dias e depois congelada! Desta não se vende a "Metro", mas tenho um fornecedor privilegiado que é o meu cunhado que vende para toda a europa com o seu "rótulo" de qualidade e garantia. Podíamos ter aproveitado a sua estada no Natal em Viseu para dar um curso de formação de carne maturada, dry aged e muitas coisas mais...pode ser que um dia...





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