Por isso não podia deixar de escrever duas linhas dedicadas ao seu Papel no Cardo...
O Professor Jorge Gominho, era
uma das minhas maiores expectativas neste I Simpósio do Cardo que se confirmou na íntegra
com uma apresentação verdadeiramente estruturante e elucidativa sobre a
perspetiva multifuncional do cardo (Cynara cardunculus L.), fruto de um
vasto trabalho de enorme competência que tem desenvolvido com a sua equipa de
colegas e colaboradores do FORTEC TEAM no ISA. A sua Multifuncionalidade deve-se à
possibilidade de utilização da planta em Pasta e papel, na alimentação humana e
animal, fitoquímica, Produção de Energia, Compósitos, Fitoremediação,
Horticultura. Revelou a vocação privilegiada do cardo face aos novos desafios
das alterações climáticas, um tema que suscitou curiosidade ao Luís Abrantes
que, infelizmente não teve oportunidade de a ouvir a comunicação, e que será um
dos fortes argumentos para incrementar e estimular a plantação e utilização do
cardo num futuro próximo, até para transferir vocações para outras plantas e culturas. É uma planta que pela sua rusticidade associa uma
assinalável produção de biomassa de vocação diversa a uma gestão equilibrada no
uso de recursos e nutrientes sendo pouco exigente em adubação, apresentando tolerância
a solos com alguma salinidade e uma assinalável protecção à erosão dos solos,
uma tema muito em voga com o advento dos incêndios. Para além de tudo isto pode, ainda, exercer a função de fitoremediação, outra das áreas tão em voga num tempo em que é necessário aumentar e recuperar áreas para cultivo e alimento da população mundial de uma forma sustentável. Apresentou
dados consistentes em relação à produção de biomassa total e fraccionada em
áreas de plantação com uma expressão muito considerável, na ordem das dezenas de hectares que foram cultivadas no Alentejo e
Ribatejo. Curioso o facto de não haver qualquer referência em relação à
colheita de flor nessas áreas de plantio, até porque a vocação principal era a
biomassa com fins energéticos, embora acredite que parte da flor tenha sido aproveitada
para a sua utilização mais nobre. Foi feita referência a Jesús Fernández da Universidade
Politécnica de Madrid como um dos percursores e maior conhecedor da utilização da
biomassa do cardo e com quem o Prof. Gominho colaborou. Mostrou ainda o evoluir
das publicações no cardo que soma mais de 1000 publicações e 14000 citações,
desde a primeira publicação datada de 1937 e que está relacionada com a
influência da flor no leite. Numa síntese extraordinariamente interessante
revelou que 60% das publicações são na área da Agricultura e Ciências Biológicas,
31% nas Ciências Materiais, 30% na Engenharia Química, 18% nas Ciências Ambientais,
sendo que as restantes se distribuem pela Química, Engenharia, Energia, Bioquímica,
Genética e Biologia Molecular e Medicina. Esta distribuição revela bem a tal
multifuncionalidade e a estrutura do conhecimento sobre esta espécie,
acreditando eu que certas áreas venham a ganhar pendor fruto da sua fitoquímica
de exceção. A este propósito o Prof. Jorge Gominho mostrou a página web da BBC
que é dedicada exclusivamente ao Cardo e às suas aplicações alimentares. E o que
nós temos tentado para introduzir o cardo na alimentação. Relembro que no dia
26 de abril de 2012 realizamos na Casa da Insua, sob a batuta do Chefe Paulo
Cardoso um jantar dedicado ao cardo e aos primores da Serra da Estrela que
muitos referem como o percursor dos "Queijos à Chef", mas que eu considero um
evento que teve uma identidade muito própria e exclusiva. Eu concluiria dizendo
que o Prof. Gominho abriu o livro sobre o cardo revelando os pormenores da
anatomia do caule, do capítulo, dos pelos e dos vilanos. A sua composição
química, a capacidade de rentabilidade energética por combustão, produção de
biogás e biodiesel. Confesso que a produção de pasta e papel é uma das que mais
me fascina, até pela experiência que já tive com o papel de algodão e por ter sido presenteado com duas folhas de papel de cardo remetidas pelo Prof. Jorge Gominho, ainda sem nos conhecermos pessoalmente, que demonstra a delicadeza e generosidade deste Senhor. Acredito que o papel do cardo tem particularidades que nos podem fazer escrever novas páginas na história
desta planta e das suas criações. Temos ainda a produção de pellets, bioetanol,
alimentação animal, usos farmacológicos, compósitos naturais, bioabsorventes, fitorremediadores,
horticultura, terminando na alimentação humana como prova das suas aptidões. Curiosamente,
hoje mesmo, a minha filha Rita irá apresentar ao Nutricionista do FCPorto um
trabalho sobre o potencial nutracêutico da alcachofra como “super-alimento”,
sem que eu tenha soprado ou sugerido qualquer tipo de influência. Veremos o
reflexo porque é um espelho do cardo!
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