Estas são as fotos do evento de degustação que ainda não tinham sido mostradas e que foram gentilmente cedidas pela Câmara Municipal do Sátão. Tentamos fazer as nossas realizações com a máxima dignidade, sejam em Buenos Aires ou no Sátão. Aqui fica o testemunho com o agradecimento a todos que tornaram isto possível, num tempo recorde e com um orçamento muito limitado.
(Publicado na Gazeta do Sátão)
No passado dia
17 de novembro, integrado na Feira do Míscaro, a Câmara Municipal do Sátão realizou
na Casa da Cultura, um ciclo de conferências, proferidas pelo Manuel Paraíso da
Associação Micológica “A Pantorra” e Paulo Barracosa (ESAV) às quais se seguiu
uma prova de degustação realizada pelos Chefs Eduardo Almeida e Paulo Cardoso
(Casa da Insua) com cogumelos silvestres da empresa Frutisilves do Sátão. A
conferência do Manuel Paraíso intitulada “Preservar e Valorizar a
Biodiversidade Micológica pelas Boas Práticas” teve como objetivo elucidar os
presentes sobre a importância de dominarmos o conhecimento na biodiversidade
dos cogumelos, um tema de uma complexidade extrema pela extensa diversidade e
pelos riscos fatais que pode comportar uma má identificação. Concomitantemente
foram abordadas as questões das práticas que devem ser seguidas na colheita
destes “frutos do bosque”, relacionadas com a necessidade de garantirmos a
sustentabilidade dos ecossistemas para proventos futuros e continuados. Paulo
Barracosa, com a conferência intitulada “O Ecossistema Natural e Económico da
Capital do Míscaro”, fez uma abordagem mais holística sobre uma possível
estratégia a ser seguida por um Concelho, sem com isto pretendesse dar
conselhos àqueles que melhor conhecem os seus territórios e a sua identidade. Na
sua preleção referiu que a definição vulgar de míscaro é normalmente mais lata
que a do simples Tricholoma equestre
e é esse o conceito que deve ser explorado para bem das vocações do Concelho. O
Sátão tem o privilégio de possuir uma “rede subterrânea” de micélio que
funciona como transformador e potenciador de toda a sua floresta. Esta rede de fungos
subterrânea são os organismos dominantes em solos arejados, podendo representar
até 60% da biomassa da camada superficial do solo, e assumindo-se como elemento
vital para a continuada renovação dos solos e da matéria-prima necessária para
o crescimento das árvores. Para termos uma noção do potencial que estamos a falar
referiu que este mundo dos “cogumelos” inclui uma extensa biodiversidade estimando-se
que existam até 5 milhões de espécies, sendo que apenas 5% das espécies estão
atualmente classificadas e descritas. É por isso um grupo com um enorme
potencial por descobrir e que, à semelhança do passado, se pode assumir de
forma preponderante para as realizações futuras nas mais diversas áreas do
conhecimento com particular incidência nas questões relativas à nutrição e promoção
de saúde e bem-estar. Considerou que a aposta do concelho do Sátão numa marca
ligada ao reino Fungi é também uma aposta de futuro que assenta numa rede
estável e perene, à semelhança das hifas num micélio, que pode frutificar
rapidamente tal como os carpóforos, de forma efémera, mas reprodutível. Estes
territórios devem dar cada vez mais atenção aos seus recursos endógenos, ao
potencial da biodiversidade dos seus recursos genéticos, muito em particular no
setor agro-florestal que se possam traduzir numa valorização económica, social
e cultural. Afirmou ainda que esta valorização pode ser liderada por um
município, através das diversas ferramentas que possui como associações de
desenvolvimento rural, em parceria direta com as Empresas e em estreita ligação
com as Universidades, Politécnicos e Centros de Investigação. O Sátão pode ser
a força motriz para a criação de um centro de Investigação dedicado aos Fungos
a nível Nacional. Esta área do conhecimento é muito exigente por ser ainda
pouco conhecida e é muito aliciante pelo futuro que perspetiva. Por isso advogou
que a promoção deve ser incentivada nos mais jovens, desde tenra idade com
objetivos adequados aos vários níveis de ensino, envolvendo as ciências, mas
também a arte e as outras formas de cultura. A sugestão para a realização de
uma Prova de degustação de cogumelos silvestres no âmbito deste evento,
intitulado “Os Aromas que Inebriam do Cerne Lenhoso ao Fumado da Caruma” não
foi seguramente por ter sido visto noutro lado. Foi sim, porque o Sátão é sem
dúvida o local de eleição para uma realização de um evento desta natureza, para além do cenário ter sido criado de propósito para o efeito com a colaboração da Movecho. Poucos se lembraram que em 12 de dezembro de 2004 o Sátão e em particular a
Frutisilves de então, pela capacidade do Sr. Domingos, proporcionou um dos
eventos mais brilhantes alguma vez realizados no âmbito desta temática, com a
participação do chef de cozinha Jean
Pierre Fauchet da empresa Monteil, para confeccionar uma manjar dos deuses
servido no Hotel Montebelo, à época dirigido pelo Dr. Machado Matos. Concluiu
dizendo que a mensagem transmitida no âmbito desta realização, foi a de que o
Concelho do Sátão deve apostar nesta área de futuro, nas suas mais diversas
abordagens, numa lógica de promover a máxima do Concelho, “Capital do Míscaro”.
Havendo vontade política e comprometimento
das entidades do concelho seguramente que não faltarão ideias no âmbito desta
temática que se traduzam em mais-valias para o Sátão e para aos seus munícipes.
Se suscitarem algum apoio não faltarão instituições que se quererão juntar às
iniciativas promovidas pelo Município do Sátão, até pela diferenciação e
identidade do território, sendo que o papel do Município deverá ser estimular
estas redes, depois tudo o resto pode crescer como “cogumelos”.
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