sábado, 15 de junho de 2019

Agora que os novos capítulos do cardo estão a entrar em floração, ...no CENTRO!







Cardo apresenta-se, hoje, como uma oportunidade na região Centro de Portugal, porque, para além de bem adaptado às condições edafoclimáticas face à tendência das alterações climáticas, é no Centro que se encontram as indústrias que podem valorizar de forma muito significativa a biomassa proveniente desta espécie. Em primeiro lugar o cardo justifica-se na região pela existência dos queijos Serra da Estrela e Beira Baixa DOP que, pela regulamentação vigente, são obrigados a usar extratos de flor de cardo como ingrediente para o processo de coagulação. Mas ainda existem todos os restantes queijos não DOP que poderiam usar a flor de cardo no fabrico de queijos de leite de ovelha, cabra e vaca com vantagens acrescidas que permitiriam aumentar o leque da diversidade dos queijos do Centro. Esta opção viria a reforçar a designação DOP na qual todos os ingredientes deverão ser originários do Território de Denominação de Origem, colocando assim todo o foco no Centro, no que toca ao leite, ao cardo e até ao sal. Dando particular atenção à restante biomassa poderemos afirmar que o caule pela excecionalidade da sua estrutura que confere simultaneamente resistência e leveza, e que esteve à prova na maior feira de mobiliário do Mundo em Milão, pela mão do Departamento de Madeiras do IPV, terá uma larga aplicação na produção de estruturas de madeira leves e resistentes com função de “esqueleto” onde pode fazer toda a diferença pelo notável desempenho. Acredito que o grande destaque possa advir de peças de design capazes de arrebatar prémios de excelência no design a nível internacional e abrir um novo capítulo do cardo e que as instituições de investigação, associadas com o sector agro-pecuário e a indústria do Centro temos que assumir a responsabilidade e o desafio. Desde há muito, que venho defendendo que a área das embalagens pode vir a assumir-se como um dos grandes desígnios do Cardo nos tempos mais próximos, aliando estrutura, função e design numa lógica que poucos biomateriais poderão proporcionar de uma forma natural. O grande trunfo do cardo no Centro estabelece-se pela proximidade entre a produção de cardo e as mais diversas induústrias de transformação que é de crucial importância porque a leveza do material onera em muito o seu transporte, constituindo-se uma oportunidade de futuro a curto prazo, especialmente para terrenos incultos e de matos em toda a vasta região centro. Estamos ainda a dar particular atenção às folhas de cardo que pela diversidade em compostos bioactivos podem assumir diversas aplicações desde os biocidas e proteção de plantas até à farmacêutica, cosmética, nutrição, dietética e alimentação, sempre privilegiando os contactos e os desenvolvimentos na investigação com o potencial industrial do Centro. As sementes têm sido uma das formas de biomassa onde mais se tem avançado, designadamente na produção de óleos e bioplásticos, embora ainda possam assumir-se como complemento na alimentação animal pela elevada teor de proteínas. Desenhar formas de produção adequadas as diversas tipologias de exploração é o objetivo a que nos propomos quando solicitam a nossa colaboração. Não queremos unicidades, mas formas de diferenciação valorizadas. Este tem sido o nosso desígnio desde há anos, mas nunca senti estar tão perto de alcançar uma parte significativa dos objetivos a que nos propusemos inicialmente. Temos que saber retirar de cada órgão da planta e de cada elemento da biomassa a melhor rentabilidade possível que dependerá da vocação definida e da forma como cada um dos seus utilizadores a poderá valorizar. Os pigmentos são um bom exemplo. Se a indústria queijeira não valoriza as antocianas, compostos fenólicos e flavonoides que existem nos pigmentos da flor porque não os disponibilizamos à tinturaria mais evoluída que também temos. Ou então passemos a afirmar com todas as letras que os queijos contêm na sua composição estes elementos que são vitais para a promoção da nossa saúde. O que não podemos é desperdiçar o potencial que nos é proporcionado pelas mais diversas formas de biomassa, seja a flor, caule, sementes ou folhas. Apesar de todos os esforços que têm sido feitos, e dos bons exemplos que podemos destacar, em termos gerais, a investigação ainda anda algo afastada da indústria e da sociedade e vice-versa e são normalmente os mesmos que têm acesso direto aos órgãos de decisão da política regional que define os desafios e os novos paradigmas do desenvolvimento. Na minha modesta opinião estes têm que ser muito bem definidos e desenhados, em complementaridade, e devidamente ajustados ao potencial produtivo já existente e alinhados com as tendências de futuro no que toca à sustentabilidade, economia circular e de proximidade e redução de emissão de gases com efeito de estufa. Mas façamos mais, atentemos na inovação com olhos de ver ao pormenor e inteligência sensorial!