terça-feira, 16 de março de 2010

Um CONSELHO...para VILA NOVA de PAIVA

Vila nova de paiva… um enorme capital humano e natural

Vila Nova de Paiva, pode assumir-se como o protótipo de um território de baixa densidade com um elevado capital natural e humano, cujo potencial pode ser desenvolvido criando sinergias em prol do desenvolvimento e bem-estar das suas populações “naturalizadas” e daqueles que os visitam.
O Concelho de Vila Nova de Paiva (17.533,6 ha), situa-se a Norte do Distrito de Viseu, no coração de Portugal e no cerne mais interior de Beira, no território apelidado por “Terras do Demo”. Cerca de 1.800 ha estão sob a protecção das directivas comunitárias da rede Natura 2000, numa extensa faixa que percorre o rio Paiva em ambas as margens e que atravessa o concelho no sentido Este-Oeste. O desenho dos rios numa matriz peninérvea, cria uma nervação que alimenta e potencia uma enorme franja daquele território, permitindo que, nesses vales as linhas de água sejam bordejadas por densas e frondosas galerias ripícolas, onde dominam os salgueiros (Salix alba), freixos (Fraxinus excelsior) e amieiros (Alnus glutinosa) e que tornam esses ecossistemas como habitats prioritários a preservar (91EO). Nestes cursos para além da “seiva” que alimenta o território também circula a Lontra (Lutra lutra) uma espécie que anima o ecossistema, cuja presença constitui um óptimo indicador da qualidade e recatez do elemento. Na fauna o ex-libris deste território é o Lobo (Canis lupus). São frequentes as marcas “fossilizadas” da presença actual do Lobo em especial junto a locais de abeberamento nas Serras de Leomil e Lapa. Em Portugal, esta é uma espécie em Perigo e onde se incluem as espécies que enfrentam um risco muito elevado de extinção na natureza, cujo declínio tem sido agravado pela fragmentação e destruição do habitat a par do extermínio das suas presas naturais. Este ícone está naturalizado numa paisagem referenciada como habitat prioritário que urge preservar (6230).
Num outro registo, este é um território com um subsolo de riqueza extrema, onde as minas do Rebentão, constituem um elemento de extrema importância para a compreensão das características geológicas de todo este território e da história e cultura das gentes associadas à extracção do volfrâmio, sem dúvida um potencial histórico a explorar. Mas este “monumento” é também uma estrutura arquitectónica de uma beleza rara edificada pelo homem que, escavou uma das mais extraordinárias minas europeias. Com gigantescas colunas e enormes abóbadas onde corre no fundo um imenso e límpido “rio”, onde a luz adquire um reflexo autêntico, numa morfologia de espaços que faz lembrar a fantástica e imaginativa arquitectura do catalão Antoni Gaudí.
Neste elencar de momentos únicos de Vila Nova de Paiva, não podia deixar de fazer uma justa referência ao Parque Botânico “Arbutus do Demo”. Um projecto que nesta nova lógica de desenvolvimento de Vila Nova de Paiva tem que figurar como um projecto âncora, onde possam fazer convergir um conjunto de sinergias que, promovam mais que a criação e inovação, o desenho e o desenvolvimento com base no conhecimento científico. É neste espaço que existe o centro de interpretação “Testemunhos da natureza”, um laboratório onde podemos colher “Impressões da natureza" e um ateliê criativo onde “inventamos a natureza”. E como surge uma ideia destas? Pela mão de Aquilino Ribeiro, um autor que lê a paisagem através dos cinco sentidos e que a retrata como um «Malhoa da Prosa». Para dar coerência, coesão e competitividade a este território só faltava um ícone cultural, um verdadeiro mestre que nos relata o espaço, as formas, as texturas, a luz, a expressiva dimensão acústica do espaço natural e a paisagem dos odores, tudo o que deseja «um espectador ávido de ver» e com vontade de experimentar.
Todos estes elementos realizam o cenário das «Terras do Demo». Resta-nos falar dos intérpretes e actores. Daqueles que marcam realmente a diferença entre territórios. As gentes do Alto Paiva! Gentes que têm nos seus genes a capacidade de expressar o estoicismo de lutar contra as adversidades e agruras do tempo. Gente, por isso áspera e rude mas ao mesmo tempo afável com elevada auto-estima e com um enorme potencial de conhecimento per capita. Sabemos bem quem são e o que vale cada um per si, mas queremos uni-los em rede e maximizar sinergias.
Elencadas algumas das potencialidades deste território, surge a pergunta? Com todas estas valências porque é que, este é ainda um território que gera parcos recursos económicos e nem se quer os consegue redistribuir para os actores que ainda estão in loco. São necessárias novas estratégias para os velhos e novos problemas nos territórios de baixa densidade. Requerem-se novas soluções, soluções diferentes, mais arrojadas que rompam com o status quo do passado. O modelo político implementado nestes territórios está esgotado, há que criar um completamente de novo. Assente num projecto de turismo sustentável, de natureza, em que as vivências fiquem gravadas nas retinas daqueles que nos visitam. Não bastam as paisagens, a biodiversidade da flora e da fauna, mas acima de tudo são precisos os actores humanos que ainda resistem no território. Valorizar os artífices e as suas criações que, assentam num extrema riqueza empírica que é preciso creditar cientificamente e atribuir um design que permita que estes produtos endógenos possam transpor as fronteiras do território e quiçá do País. Também sabemos como fazê-lo! Não é uma presunção. É um acreditar nestas gentes, no seu extraordinário conhecimento, na riqueza das suas experiências. Este é um bom augúrio para o futuro! Vamos criar um novo conceito de centro de interpretação. Vila Nova de Paiva tem que desenhar dois grandes restaurantes cravados naquela paisagem. Um vocacionado para a truta no leito de um rio tortuoso onde se escute o brilhar cristalino da água. O outro, «esculpido» nas paisagem agreste das Terras do Demo, onde vagabundeiam o «cabrito da gralheira» e a «Paivota». Resta implementar uma rede de casas florestais e de turismo rural devidamente preservadas e enquadradas em diferentes paisagens, onde os visitantes sejam brindados com a afabilidade de todo um povo. Este plano tem a designação «Demover», uma nova forma de ver as Terras do Demo.

1 comentário:

  1. HUGO FILIPE AFONSO TRINDADE20 de março de 2010 às 10:02

    Boa tarde,
    Poder ler palavras tão sábias e que caracterizam a nossa(minha)terra de uma forma tão real e nobre é certamente a melhor forma de acordar para a realidade de que se vive numa terra rica de pessoas e de natureza.
    Fico muito feliz por perceber que existem pessoas que encontram na naturalidade das coisas a riqueza que o Homem, tende a regeitar e a matar de forma inconssciente. Para quem vive em Vila Nova de Paiva como eu, existem dois tipos de sentimento: Um de tristeza por ver cada vez mais os jovens a ignorarem uma realidade natural e tão nobre que está mesmo ao seu lado; A segunda a crua realidade da politica do pape e da cunha, para quem quer revitalizar e levantar o que á muito foi abandonado pelo homem e pela sua ganância pelo futiro e pela tecnologia de ponta. Sei que um apenas não faz a diferênça mas a luta e a vontade que pretendo deixar ao meu filho, acredito que seja o inicio de uma nova sociedade e de uma nova ideologia de jovens. Não sou uma pessoa de muitos conhecimentos na àrea da natureza, mas a formação independentemente da àrea é sempre uma ajuda para podermos ser conscientes e ver o quanto estamos a estragar e a perder a cada dia que passa. Concordo totalmente com as palavras que transcreve do nosso querido Aquilino Ribeiro, foi sem dúvida um visionário e uma pessoa que viu a muitos anos a trás a riqueza desta terra e das suas pessoas. Infelizmente as pessoas já não são as mesmas, mas a terra essa é a mesma e continua a sofrer. Devemos ser astutos e promover o que de melhor temos, mas a sociedade portuguese necessita de umas férias nas sociedades nordicas, para elevar o espirito empreendedor e lutar por uma causa tão nobre como é o natural e toda a biodiversidade. Não sou um lutador nato mas estou a fazer e a querer tomar a iniciativa de ser um dos que quer fazer mais alguma coisa por esta terra, onde vivo e quero certamente passar os longos anos da minha vida. Quero ter e continuar alguns legados da familia e criar espaço natural para criar riqueza para quem visita estas gentes, contudo a luta é com o papel e com a falta de informação que arrasta este país a anos. Bem quero antes de mais agradecer as suas palavras tão afaveis e naturais, é sempre bom perceber o reconhecimento que é identificado por pessoas que conhecem mais do que os próprios residentes a potencialidade que existe e que deve ser trabalhada. Como diria Aquilino Ribeiro "...bem haja..." desejando assim tudo o que é bom.
    Obrigado

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