Esta foi uma coleção intitulada Fóssil Collection criada em colaboração com o Moinho da Carvalha Gorda e apresentada no IPV.
Quando o narrador pensa em contar uma
história repleta de fantasias e heroísmo com um final feliz, a Ginkgo biloba desempenha na
perfeição o papel do personagem principal na sua narrativa. «Era uma vez...» na
Era Paleozóica (270 M.a.), um grupo de gimnospérmicas (Ginkgoales) que
testemunharam a criação e o desaparecimento de muitas espécies e assistiram com
serenidade ao último suspiro dos dinossauros, tendo sido quase vencidas na luta
desigual com o tempo, resistindo apenas o género Ginkgo. Árvore peculiar, de folha caduca que se tornou
“perene” no tempo, venceu glaciações e cataclismos geológicos, mantendo-se
praticamente inalterável ao longo de 150 milhões de anos. A sua resistência
extrema, atingiu o epílogo ao assistir com quietude ao rebentar da bomba
atómica de Hiroshima a seu lado, convertendo-se nesse momento, num verdadeiro
baluarte pela paz.
Com origem na China, onde se
podem encontrar árvores no estado natural com mais de 3500 anos, pensou-se
extinta até 1691, altura em que o botânico e físico Alemão Engelbert Kaempfer a
redescobriu no Japão, descrevendo-a no seu livro Amoenitatum exoticarum (1712). Na actualidade, com ampla
distribuição por todo o mundo, fruto de um processo de preservação e
disseminação, que se iniciou em 1192 para o Japão e Coreia, pela mão dos monges
budistas, só no séc XVIII “viajou” para a Europa (Holanda e Inglaterra) e
América do Norte, onde é um marco obrigatório em Jardins Botânicos e parques
urbanos das principais cidades do Mundo.
Designada por Darwin (1859) como
um fóssil vivo, por gravar a memória dos tempos que os seres humanos só podiam
conhecer pela interpretação das rochas, constituí um estandarte de perseverança
guardando segredos do imensurável passado. Primitiva nas características
morfológicas e fisiológicas, conseguiu vingar na competição da biodiversidade,
utilizando o vento como agente polinizador (anemófila), possuindo folhas
percorridas por nervuras ramificadas dicotomicamente que se estendem desde o
pecíolo até à acícula plana e revelando um sistema de reprodução, que ilustra
bem o que poderão ter sido os primeiros passos na evolução das gimnospérmicas.
Ao nível das aplicações
medicinais, a Ginkgo constitui o
exemplo perfeito da aliança entre a medicina tradicional e a ciência moderna. O
primeiro registo do uso medicinal das folhas, terá sido mencionado na Materia medica Chinesa (Pen Tsao Ching) em 2800 a.c. e atribuída
ao imperador Shen Nung, revelando qualidades de activador da circulação sanguínea.
A utilização das folhas de Ginkgo biloba
para tratamento de doenças da função cerebral, dada a sua semelhança aparente
com os hemisférios cerebrais, fazia apologia da doctrine of signatures, na qual os orgãos das plantas propiciavam o
tratamento de doenças em orgãos humanos morfologicamente semelhantes. No
Ocidente, apenas no final da década de 1950 se iniciaram os estudos da
utilização medicinal que vieram a laurear o Dr. Elias J. Corey da Universidade
de Harvard em 1990 com o prémio Nobel da Química, pela síntese total do
ginkgolide B.
A ascensão meteórica na
popularidade da Ginkgo nos últimos 15
anos, deveu-se à descoberta de uma multiplicidade de compostos químicos, que
desempenham um papel determinante no tratamento de problemas respiratórios,
motores, vasculares, e na protecção das
células em particular das cerebrais. Os terpenos (ginkgolides e bilobalides),
propiciam uma aumento da circulação sanguínea com subsequente fornecimento de
glicose e oxigénio. As propriedades anti-oxidantes conferidas por um conjunto
de compostos dos quais se destacam os flavenóides (Kaemp-ferol; quercetina;
isorhamnetina e protancianidinas) protegem as células dos danos causados pelos
radicais livres. Por último, os ginkgolides (A, B e C), têm revelado a capacidade
de bloquear um mediador designado por platelet-activating
factor (PAF) inibindo respostas alérgicas como a constrição bronquial e
úlceras gastro-intestinais, estando o PAF igualmente implicado no asma,
rejeição na transferência de orgãos e arritmias cardíacas.
Este
texto pretende ser um tributo para a preservação e divulgação de uma espécie,
que para além do seu passado histórico repleto de sucessos, tem o mérito de
demonstrar a insignificância da longevidade do Homem face à geneologia desta
árvore, desempenhando desde tempos imemoriais o papel de “Guardiã” deste nosso
planeta.
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