"Dado que pudéssemos medir o mundo por outra
toeza, outro galo nos cantara. Mas a nossa insignificância exige precisamente
esta pessoalidade de comensuração, donde resulta que a Primavera, por exemplo,
não é um fenómeno com a sua ciclicidade de todo independente do indivíduo, mas
uma forma do seu estado de ser.
As rosas têm mais ou menos perfume conforme o
momento de sensibilidade de quem as aspira. O prado de um proprietário é sempre
mais bonito que o prado do vizinho. As fruteiras que Fulano plantou apresentam
corimbos que revestem a seus olhos um encantamento que as torna inigualáveis,
comparadas com outras da mesma espécie.
Se o homem tivesse olhos, como as
máquinas fotográficas, puramente objectivos, gozaria por certo o mundo de forma
invariável, um só tom, uma só forma, uma só gama. Todavia é na diversidade da
retina que reside a ciência; o bem e o mal. Uniforme só o olhar dos anjos. Há
dias que gosto do vale, de estâncias mais amáveis. Outros dias em que o minuto
mais grato é o da despedida para a serra."
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