sábado, 13 de outubro de 2018

Não há duas...sem três...e o que Sobra...Nada!








Jardins da Cidade-Jardim – Aformoseamento natural de Viseu
Lançamento no Museu Grão Vasco, 12 outubro 2018
Considero um privilégio e simultaneamente uma honra “apadrinhar” mais esta excelsa obra da Eng. Leontina, numa área que me é muito grata combinando o conhecimento científico sobre a identificação e valorização da biodiversidade com a sensibilidade de quem a perscruta, onde a minha Amiga é “Maestrina”, sobre uma cidade que adotei como “berço” para as minhas filhas e num palco inspirador como o Museu Grão Vasco.
Gostaria de congratular-me com as Edições Esgotadas (na pessoa da Drª. Teresa Adão) por terem acreditado em mais este projeto da Eng. Leontina, ao qual não serão alheios os méritos obtidos pela autora com o sucesso da primeira obra “Árvores Ornamentais do Património Florístico de Viseu“ lançada neste mesmo local em 08.11.2014. Gostaria de agradecer ao Museu Grão Vasco (no nome da sua Diretora, Dr.ª Paula Cardoso) por terem acolhido esta iniciativa e permitirem-me estar aqui, neste mesmo local passados poucos meses da realização de uma conferência sobre Orlando Ribeiro, para muitos, o mais proeminente geógrafo Português com ligações afetivas a Viseu (Cavernães) onde os passeios com o Avô por estas paisagens e o contacto com estas gentes o inspiraram para ser um dos vultos da Geografia Mundial.
Muitas vezes escolhemos a mesma pessoa para as várias “efemérides” da nossa vida social, Padrinho de Batismo, de Comunhão, de Casamento,….Outras escolhemos estrategicamente pessoas diferentes por razões conjunturais ou de momento, ou por nenhuma razão especial e simplesmente por impulso. Neste caso, eu diria que o facto de ter sido escolhido duas vezes para o lançamento de dois livros da mesma autora, atribui-me ainda uma maior responsabilidade, mas que neste caso é um enorme prazer, por se tratar de uma obra de exceção, escrita por uma Amiga. A Leontina permita-me substituir o título (neste caso de Engenheira) por epítetos que, apesar de os usar de forma espontânea, jamais conseguirei traduzir o respeito que tenho pelo seu carácter e a sua capacidade de trabalho. Nalguma inspiração que procurei ter para este momento, tive que reler o que escrevi há cerca de 4 anos, neste caso para não cair na banal repetição e procurando adequar estas simples linhas à obra em questão e ao momento.
Começando pelo nome da Autora, Leontina, é nome de filósofa, discípula de Epicuro e contemporânea de Teofrastos e Plínio que me habituei a lidar por questões botânicas e agrícolas. De acordo com Cícero, Leontina (a filósofa) publicou argumentos criticando o famoso filósofo Teofrasto “Leontina, aquela mera cortesã, teve a audácia de escrever uma resposta a Teofrasto - acredite, ela escreveu elegantemente e em boa linguagem, mas ainda, essa foi uma liberdade que prevaleceu no Jardim de Epicuro”. Esse tal jardim (na casa de Epicuro em Atenas) era o local onde os amigos equilibram os humores da existência. Uma das máximas de Epicuro diz que todo sofrimento pode ser suportado com serenidade, contudo, não trespassa pela "terapia epicurista" sem respaldo dos amigos. A filosofia epicurista ensina que as relações de amizade são necessárias à manutenção da lucidez. Epicuro viveu uma crise parecida com a qual vivemos no mundo contemporâneo: uma crise em que identidades consolidadas, estáveis, começam a dissolver-se. A lição do Jardim é que para enfrentar as adversidades e ainda se manter feliz é preciso resguardar o prazer de uma vida simples entre amigos. Entre os mais notáveis discípulos de Epicuro está o romano Lucrécio, que no século I a.C., expôs a doutrina epicurista no famoso poema De rerum natura (A Natureza) – uma das obras mais importantes da poesia latina.
Sobre a autora dizer, que desde que a conheço sempre se pautou por uma competência extrema, um rigor científico de excelência, uma enorme sensibilidade e uma lealdade a toda a prova. Mas muitos dos que aqui estão presentes conhecem muito melhor a Leontina do que eu próprio. Uma coisa é certa, a Leontina não é apenas mais uma flor no jardim, mas é uma flor que pela singularidade morfológica, cromática e de aroma atrai e dá nome ao jardim. Não vence pela opulência ou ostentação, mas pela simplicidade e autenticidade, epítetos específicos que associados ao género são extraordinariamente raros nos tempos que correm.
Uma crónica recente do Miguel Esteves Cardoso publicada no jornal Púbico, adequa-se na perfeição ao aturado trabalho de pesquisa que a autora tem feito e que se traduz nesta obra. “Uma coisa é termos jeito para encontrar coisas no Google. Saber fazer uma pesquisa é outra. Antes da Internet quando se falava de uma pesquisa falava-se de um trabalho de investigação em que se acumulavam e se ordenavam dados provenientes das mais variadas fontes (livros, jornais, documentos inéditos, entrevistas pessoais) de maneira a estabelecer um estudo original de um tema importante. É preciso estudar só para aprender a pesquisar. A Internet enriquece as pesquisas mas obviamente não substitui as outras fontes porque aquilo que está na Internet é uma pequeníssima parte do que está nas bibliotecas e hemerotecas públicas e particulares”. A informação histórica de relevo que é descrita na obra é fruto de uma intensa, pormenorizada e desafiante pesquisa, realizada no silêncio do folhear das memórias escritas do passado, procurando encontrar as linhas soltas que se possam unir para voltar a cerzir a história do futuro. Este conhecimento histórico consubstanciado é de uma importância extrema para a projeção do futuro da cidade nas oportunidades que esta mesma história nos dá para os desafios dos novos tempos. Neste tempo de competição pelo efémero do turismo e dos “vistos gold”, apenas aquelas cidades que souberem criar a sua identidade baseada na construção da memória poderão fazer a diferença e terem sucesso na compita à escala global para captarem população e investimento. Por isso, obras desta natureza, ajudam-nos a compreender, a preservar e a projetar a memória e as árvores são a forma mais elevada de a propalar. Khalil Gibran dizia que as “Árvores são poemas que a terra escreve para o céu”. Não é por acaso que nós as derrubamos e as transformamos …para registar uma parte da nossa memória coletiva. Talvez por isso quando nos deparamos com uma simples folha branca a inspiração toca-nos, por isso alguns autores insistem em escrever à mão e também por isso não prescindimos de folhear o papel para ler, para escrever e para pesquisar. Há muita memória numa simples folha branca, saibamos respeitá-la e juntar, a nossa, à voz coletiva, não em uníssono mas em diversidade, complementaridade e sinergia.
Esta obra é uma homenagem à cidade e aos seus jardins pela mão dos criadores, os jardineiros. Ajuda-nos a interpretar o genius loci de cada artéria, avenida, rotunda, jardim ou parque, estabelecendo uma relação “simbiótica” entre a morfologia e a estética paisagística, associadas à cultura e história de Viseu, cidade-jardim da Beira. A sensibilidade que a autora procura despertar, cultiva-se muito pelo olhar e admirar o belo e o pormenor mais do que simplesmente pelo ver. Estabelece relações cromáticas e morfológicas na notável biodiversidade de tons, cores, matizes, formas, sombras e sensações que podemos desfrutar em cada um dos espaços que são património da cidade, e no qual cada um dos leitores terá a liberdade de fazer a sua interpretação, encontrando em cada momento, face à estação do ano e luminosidade do dia, enquadramentos e testemunhos de exceção que passarão a constar no recanto da nossa memória coletiva. Estas viagens podem ser repetidas indefinidamente, havendo a certeza que cada vez que as realizarmos, será como uma semente que depois de germinar passará a contar uma nova história.
Esta  obra é um presente, nos vários sentidos da palavra, mas acredito que irá perpetuar e lançar projetos de futuro na cidade, assim os atores o queiram, no que respeita à valorização do património arbóreo, no ambiente, na ciência, na arte e na cultura que podem ter repercussões económicas, hoje tão em voga. Mas acima de tudo que seja uma obra que desperte a sensibilidade e o respeito por estes elementos vivos que gravam cada momento num registo dendrológico, como que de uma memória se tratasse, recordando as árvores como guardiãs deste planeta desde tempos imemoriais. Esta é uma cidade que não se deve “envergonhar” da sua ruralidade, mas que a deve cultivar para proclamar a inovação do futuro, tão anunciada pela Comissão Europeia e em particular pelo Comissário da Investigação, Ciência e Inovação, Eng. Carlos Moedas. Mas para isso ainda é preciso investir em meios e no conhecimento. Eu quero acreditar que a nossa cidade possa contradizer o ditado “Santos da casa não fazem milagres” e aproveitar toda a sabedoria e vontade de transmitir que a Autora tem demonstrado ao longo da sua vida.
A cidade de Viseu é daquelas que cuida bem o seu património arbóreo, por mérito próprio, embora eu entenda que não tenha sabido aproveitar para divulgar tudo o que de bem tem feito nesse sentido. Peço a todos, independentemente das responsabilidades que tenham, que leiam esta obra, também as entrelinhas onde está a tal memória implícita do papel que veio da árvore e que dessa combinação possam surgir ideias e projetos de cidadania em prol desta Polis.
Confesso que para mim foi um enorme prazer ler esta obra e perceber que me cruzei com alguns dos momentos descritos, embora também tivesse sentido que em tempos muitos idos já se trataram os jardins, as árvores e as efemérides relacionadas, como posteriormente não veio a acontecer e que eu particularmente o senti e me debati. Para aqueles que são mais atentos à cidade e à leitura terão a oportunidade de assistir a uma série de coincidências dos tempos de idos com os tempos de hoje. Não vos vou tirar o prazer da leitura original desta obra mas sugiro que reparem nas belíssimas histórias das primeiras iniciativas da festa da árvore, da inusitada presença do tulipeiro ou do ulmeiro no Rossio, que por exemplo a Fundação Calouste Gulbenkian já teve que abater, dos verdadeiros responsáveis pela plantação de algumas espécies emblemáticas da cidade como as Tilias e mais recentemente as Ginkgos e acima de tudo pela verdadeira atitude de cidadania colectiva de guardião da nossa cidade que foi realizada por António Nunes Peres no zelar pelo património paisagístico da cidade de Viseu.
Termino com Fernando Pessoa
“Segue teu destino, rega as tuas plantas, Ama as tuas rosas. O resto é sombra de árvores alheias.”
À Autora, Amiga Leontina, a Todos aqueles que tornaram possível e testemunharam a saída desta obra para o prelo, Muitos parabéns e um enorme Bem-haja!

O lançamento deste livro foi uma Delicia!

P.S. Ofereço uma prenda simbólica adequada ao tema uma caixa de bombons de freixo produzidos pela única chocolateria no Mundo que o faz, ….a Chocolateria Delicia…para a Autora Eng. Leontina Fonseca,  para a Dra. Paula Cardoso (Diretora do Museu Nacional Grão Vasco) e para a Dra. Teresa Adão (Diretora das Edições Esgotadas).

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