sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Os Ecos que chegam do Alentejo...



Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo encerrou esta quarta e quinta-feira projeto de investigação com a realização do I Simpósio Nacional de Valorização do Cardo

TEXTO NÉLIA PEDROSA (Diário do Alentejo)

Um “trabalho profundo de caraterização” de populações espontâneas de cardo do Alentejo, “o primeiro desta dimensão realizado em Portugal”; a criação de três campos experimentais de cardo, dois em Beja e um em Évora, onde está “preservado material genético correspondente às várias populações estudadas e dispersas pelo Alentejo”; e a promoção do trabalho em rede de uma série de entidades nacionais, “com um reforço enorme para as instituições do Alentejo”, são alguns dos frutos do projeto ValBioTecCynara – Valorização Económica do Cardo (Cynara cardunculus): variabilidade natural e as suas aplicações biotecnológicas”, iniciado em outubro de 2015 e que agora chega ao fim. Com um investimento de cerca de 700 mil euros, foi financiado a 85 por cento pelo Programa Alentejo 2020.
“O balanço é extremamente positivo”, diz, em declarações ao “Diário do Alentejo”, Fátima Duarte, diretora executiva do Cebal – Centro de Biotecnologia Agrícola e Agroalimentar do Alentejo, a entidade promotora do projeto, frisando que é a “multifuncionalidade” do cardo que o torna tão especial. A investigadora afirma que o projeto “foi a pedra sólida, na qual queremos agora construir, e há tanto para ser feito”. Segundo a responsável, neste momento “há uma série de novos
Simpósio coloca “Beja no roteiro da investigação nacional” projetos que já surgiram das interações existentes entre as equipas”, estando o Cebal, por exemplo, “a explorar a potencialidade do cardo para produção de cosméticos”. Há ainda projetos “na área da valorização da flor, e avaliação genética de caraterísticas produtivas de interesse, a aguardar financiamento, e mais umas quantas ideias para serem postas em prática, com um grande desafio: envolver desde já as empresas”, uma das principais metas. Mas não “apenas empresas agroalimentares”, frisa, adiantando que querem “dar a devida atenção às empresas agrícolas”. “Transformar o cardo numa cultura economicamente rentável passa inquestionavelmente por uma produção agrícola otimizada, mas sustentável”, reforça. Para assinalar o encerramento do projeto, o Cebal levou a cabo, na quarta e quinta-feira, em conjunto com os parceiros – Instituto Politécnico de Beja, Universidade de Évora, Instituto Nacional de DOIS PRODUTOS INOVADORES No âmbito do simpósio, foram apresentados dois produtos inovadores à base de cardo: infusão de flor de cardo e hortelã, uma parceria Cebal e empresa Erva Doce, e cardo confitado com cobertura de chocolate negro, uma parceria Instituto Politécnico de Beja e empresa Mestre Cacau. “Estes produtos nascem de um grande compromisso assumido por todos os parceiros de valorizar o cardo, acrescentando valor”, esclarece Fátima Duarte. Investigação Agrária e Veterinária, Universidade de Aveiro, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e Universidade Católica Portuguesa (Viseu) –, o I Simpósio Nacional de Valorização do Cardo, com o objetivo de “colocar Beja no roteiro da investigação nacional em torno do cardo” e “juntar os principais nomes da investigação em cardo em Portugal”. Entre “tantos outros nomes sonantes”, contou com a presença de Euclides Pires, “considerado o avô do cardo em Portugal”, professor associado aposentado da Universidade de Coimbra.
Fátima Duarte revela que ao ser crida a marca “Simpósio Nacional de Valorização do Cardo”, o objetivo é que este tenha “continuidade”. “Gostaríamos que para o ano, ou daqui a dois (a frequência ainda tem de ser discutida entre os parceiros), outra instituição nacional, que tenha o cardo como um recurso de interesse a estudar, possa ser o organizador, noutra cidade, e assim sucessivamente”. A concluir, a investigadora realça que “o Alentejo tem três queijos DOP (Nisa, Serpa e Évora)”, pelo que “este território tem uma responsabilidade acrescida em preservar este conhecimento mais tradicional, sem esquecer de aportar inovação em novas aplicações, e principalmente em aportar valor acrescentado. Estou convicta de que o cardo poderá ser uma cultura, como tantas outras, que se estão a instalar nesta região. Ainda há muito para ser feito, mas há sobretudo um enormíssimo reconhecimento nacional e internacional pelo trabalho desenvolvido por este grupo alargado de trabalho”.

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