domingo, 20 de janeiro de 2019

CEI quem sabe de Agricultura Familiar....porque eu SEI pouco












Tive o prazer de estar presente, esta sexta-feira, no Seminário de Agricultura Familiar, Agricultura Biológica e Desenvolvimento Rural no CEI (Centro de Estudos Ibéricos) que teve lugar na Guarda a convite da minha colega Cristina Amaro da Costa a mentora do projeto que ganhou o concurso de Investigação, Inovação e Território e por isso foram convidados a organizar este seminário. O programa centrou -se em quatro Painéis_ 1. Agricultura familiar e agricultura biológica: conceitos, práticas, experiências e dinamização dos agricultores; 2. Agricultura familiar: do direito à alimentação até ao consumo; 3. Agricultura familiar e desenvolvimento rural: economia, sociologia e ambiente; 4. Construir o futuro da agricultura familiar e da agricultura biológica. 
No cômputo geral a conferência decorreu com enorme sucesso o que demonstra o interesse e actualidade do assunto, a capacidade dos intervenientes no projeto vencedor e a qualidade dos oradores convidados. Eu não vou fazer uma análise aprofundada mas apenas referir alguns aspectos que considerei muito interessantes, sem desprimor para todos os outros. Em primeiro lugar quando informei na véspera o Rui Jacinto que iria à Guarda ele respondeu-me: Eu,"CEI"! Menciono este facto pela força do nome do Centro de Estudo Ibéricos (CEI) e pelo facto do Centro estar muito por dentro da informação sobre candidaturas e estratégias e do conhecimento, fruto da forte ligação às Universidades de Coimbra e Salamanca, para além da própria ligação à Câmara da Guarda e à CCDRC. Isto tem um pouco de analogia com a "NOS", que por estarmos sempre a referir a designação torna-o um produto "NOSso" e com grande notoriedade. O Jaime Ferreira da Agrobio, disse uma coisa que todos sabemos. Muitas vezes em termos de legislação, nós os Portugueses "somos mais papistas que o Papa", querendo isto dizer que o estado escuda-se com a desculpa "esfarrapada" da legislação comunitária para exigir mais do que o pedido pela própria Comunidade Europeia o que não é nada bom para a Comunidade, a nossa. Onde é que já ouvimos isto? ...talvez no... "ir para além da troika"! As minhas colegas Cristina e Raquel foram brilhantes na apresentação. O Telmo foi o exemplo de um orgulho para qualquer professor e qualquer Escola! Muitos Parabéns! A Vereadora Laura Rodrigues falou do imenso e brilhante trabalho que o Município de Torres Vedras tem feito nesta área da valorização da agricultura familiar e biológica. Nas Escolas que o Município tem a cargo, o consumo de frescos provenientes da agricultura familiar local é na ordem dos 50%. Agora estão a incentivar a agricultura biológica e aí centram-se num grande produtor por desorganização dos restantes. Não é que deva ser o papel da Câmara, mas redistribuir por vários deveria ser o mote, embora assim seja mais fácil e exequível. Faz-me lembrar a história do queijo Serra da Estrela. É um dos sectores mais empregadores da região Centro, com mais de 3200 famílias a viverem da fileira. Mas na verdade a grande vantagem é não estarem todos sediados num local. Estão espalhados por todo o território e essa é a grande mais valia deste setor e da sua importância para a região e para o Pais. Mas voltando a Torres Vedras, um projeto fantástico é o de levar os Pais a comerem com os filhos nos seus dias de anos. Obviamente que isto é possível numa idade escolar precoce. Mas seria importante levar os Pais mais à Escola por um lado para fiscalizarem a qualidade da alimentação servida, mas acima de tudo para que os Pais vejam como se alimentam os seus filhos e ajudarem os Professores nessa árdua tarefa.
A Maria Helena Marques do ISCTE, falou do projeto "GUARDA semente" e da importância da preservação das variedades tradicionais e do papel que podem ter no futuro, entre as quais a garroba que já me tinham falado para estudar mais a fundo. Ao almoço sugeri ao Vice-Presidente, Dr. Carlos Monteiro que este seria um belíssimo slogan para a Guarda agarrar com propriedade. Lembro que em Vila Soeiro há variedades únicas de melão que o Manuel Paraíso anda a tentar preservar e incentivar o seu cultivo, um pouco como o melão da variedade "Casca de carvalho".
O José Sousa da ADER-Sousa referiu que os próprios consumidores podem condicionar o que os produtores venham a produzir. Mas entendo que crucial seria que cada produtor soubesse preservar e seleccionar os seus recursos genéticos como fizessem parte do seu próprio património, porventura que tenha vindo de avós para filhos e netos. Aliás o Vereador Victor Amaral falou da sua memória em relação ao Avô que lhe transmitiu o saber da prática agrícola e o inevitável património sentimental. Mas era relevante que tivesse sentido que também lhe tinha  transmitiu o património genético das variedades que o Avô produzia e que seguramente tinha os sabores e as texturas que ele nunca mais se esqueceu, muito provavelmente frutas colhidas das próprias árvores e no devido tempo.
Da parte da tarde o Professor Decano Valentin Cabero do Departamento de Geogafia da Universidade de Salamanca abriu o livro. Cada palavra sua tem a densidade de um saber inesgotável e de uma mensagem muito actual. Para além de tudo o mais, deu o exemplo como o mais sabedor cumprindo na integra o horário que lhe foi atribuído e acabando lá em cima deixando todos com a avidez de querem mais. É assim que devemos transmitir aquilo que pretendemos. Eu como moderador, não cortei a palavra a ninguém porque entendo ser uma questão de respeito, mas numa próxima tenho que ser mais incisivo nas regras desde início. O Fernando Delgado como conhecedor de fundo do território do Pinhal interior transmitiu uma mensagem culturalmente estética para além de técnica, com pormenores deliciosos de alguns trechos entre os quais o de Mia Couto com referência a que as aldeias perdidas são como a arrecadação da Paisagem e lugares desmapeados do Mundo.
Emiliano Tapia (Asdecoba) falou dos projetos fantásticos que leva a cabo com resultados muito positivos, para dar dignidade às pessoas que sofreram de "azares na vida". Tal como a Alguém que tem um azar na vida e que inclusivamente possa ser acusado, deve poder ter uma outra oportunidade para que mostre que se quer redimir e seguir o curso normal de uma vida com sucesso, dando dignidade ao produto do seu trabalho. Na própria cultura norte-americana, numa outra lógica, por alguém não ter sucesso num primeiro negócio não quer dizer que não tente e force para que as coisas corram bem a seguir. 
Por último, o Professor Catedrático António Mexia como sempre fez "mexer" com aquilo que sabe e fala com uma dinâmica muito sua e um conhecimento científico consolidado de uma prática activa.
Uma última referência à Cláudia Chaves da Escola Superior de Saúde de Viseu que fez uma brilhante comunicação cruzando a área da saúde com esta da agricultura familiar de uma forma muito interessante e prospectiva em termos de futuro, revelando o que a saúde pode fazer neste projeto e como os resultados deste projeto podem ajudar no cuidar das agricultores envolvidos neste tipo de agricultura. Por outro lado em off também revelou as dificuldades técnicas que teve em levar por diante um projeto que envolve dados pessoais e o poder de certos lobbies a quem não interessa que se saiba muito das implicações do excesso de fitofármacos na saúde humana. A mensagem é a da importância que no Instituto Politécnico de Viseu se criem mais projetos multidisciplinares entre as várias escolas até para, por vezes, desanuviar um pouco o ambiente que se vive dentro das próprias escolas e sermos mais profícuos e transversais no conhecimento e no saber com melhores resultados nas conclusões.
Normalmente associa-se esta agricultura familiar a uma agricultura de subsistência. Nada mais errado! Não é uma alimentação para fazer cumprir mínimos, mas antes uma agricultura de qualidade para fazer recuperar memorias de sabores e saberes tradicionais com qualidade nutricional e sentimental. É preciso saber conhecer a realidade onde cada projeto está inserido e procurar  desenhar em pormenor enquadrando os activos que possam existir em cada região e em cada momento para que resulte em sucesso. Não basta vontade política, é preciso que alguém faça o trabalho de cerzir os interesses e as vontades em prol do bem comum. Muitos parabéns a todos por esta realização!

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