sábado, 2 de junho de 2018

O Cancro Cortical dos Ciprestes nos quais iremos monitorizar...a sua evolução....








































A incidência do cancro cortical e a disseminação dos seus agentes causais são particularmente graves quando as condições climáticas são favoráveis à ocorrência da infecção e ao  desenvolvimento da doença. Assim, a incidência da doença é maior em zonas onde ocorrem chuvas e períodos de humidade relativa elevada coincidentes com as épocas de frutificação do fungo e existência de novo inóculo (de Fevereiro a Junho e de Setembro a Novembro). Durante o Inverno, devido às baixas temperaturas, e especialmente no Verão, quando a humidade é baixa, assiste-se a uma redução da incidência e da evolução da doença. Apesar de a esporulação de S. cardinale ocorrer sobretudo na Primavera e no Outono, a disseminação dos conídios pode ter lugar durante todo o ano independentemente da temperatura e desde que haja precipitação.
De facto, entre os factores que favorecem a disseminação dos agentes causais do cancro dos ciprestes destaca-se a água da chuva, porquanto contribui para a dissolução das massas de conídios e para a sua dispersão na planta bem como para plantas vizinhas. Os conídios arrastados por acção da chuva a partir dos acérvulos que se diferenciam sobre os cancros causam infecções sucessivas no tronco e nos ramos que se encontram nos níveis mais baixos, fazendo com que as árvores afectadas exibam, progressivamente, maior número de ramos mortos nas partes média e basal da copa. A resina, ao escorrer ao longo do tronco e dos ramos, tem um papel semelhante ao da água, arrastando os esporos e contribuindo para que estes se mantenham viáveis por mais tempo. A existência de lesões ao nível dos ramos e dos troncos é também importante para a ocorrência da doença, pelo que os ciprestes sujeitos a desramações ou podas, bem como os plantados com compassos apertados, sobretudo em zonas ventosas, estão mais sujeitos a ataques de cancro cortical. A disseminação de Seiridium spp. pode ocorrer por meio de insectos, nomeadamente alguns coleópteros do género Phloeosinus Chap. (designados de hilésinas), que atacam as árvores enfraquecidas devido a períodos de secura ou qualquer outro factor de stress, escavando galerias quer no tronco quer nos ramos. Estes insectos transportam os esporos de Seiridium spp. aderentes à parte exterior do corpo, tornando-se assim importantes vectores da doença, ao depositarem os esporos nas árvores onde se alimentam e depositam os ovos. Estudos recentes (Ramos & Abrantes, 2000; Roques et al., 1999) parecem indicar que alguns insectos que se alimentam de sementes, como Orsillus depressus Dallas e O. maculatus (Fieber), podem desempenhar um papel importante na disseminação dos esporos de Seiridium spp. entre gálbulos infectados e gálbulos sãos. Quando estes insectos, sobretudo os adultos, voam até árvores não infectadas podem depositar de um modo passivo os esporos sobre os frutos, contribuindo assim para aumentar o inóculo potencial presente sobre a árvore. A utilização de plantas oriundas de viveiros ou de plantações onde a doença existe constitui também um grave risco para a disseminação de Seiridium spp., já que os sintomas poderão não ser ainda evidentes mas a infecção já ter ocorrido. Do mesmo modo, o uso de sementes colhidas em árvores doentes promove a dispersão dos agentes causais do cancro dos ciprestes. A susceptibilidade das diferentes Cupressáceas ao cancro é variável. Para além do cipreste comum e do cipreste do Buçaco também o cipreste do Arizona (Cupressus arizonica Greene) e o cipreste da Califórnia (Cupressus macrocarpa Hartw.) são susceptíveis. Outras cupressáceas como Chamaecyparis lawsoniana (Murr.) Parl., x Cupressocyparis leylandii (D. & J.) Dallim., Juniperus communis L. e Platycladus orientalis (L.) Franco são, de igual modo, susceptíveis a S. cardinale. O cancro dos ciprestes pode assumir aspectos muito graves, provocando a morte de um elevado número de árvores, como tem vindo a suceder em Itália, na província de Florença, onde a incidência da doença já excedia os 70% em 1991 (Panconesi & Raddi, 1991). Na Grécia a situação é também grave, referindo Xenopoulos (1991) que, em povoamentos com 20% das árvores afectadas, se verifica um incremento da doença da ordem dos 5% a 15% por ano. À semelhança do ocorrido em toda a Europa e nos EUA com a grafiose dos ulmeiros, do que está a acontecer em Itália, Espanha e França com o cancro azulado do plátano, também o cancro cortical dos ciprestes é uma doença que representa uma séria ameaça à continuidade desta essência na paisagem mediterrânea.

O CANCRO CORTICAL DOS CIPRESTES Paula Ramos e Filomena Caetano Instituto Superior de Agronomia e Laboratório de Patologia Vegetal “Veríssimo de Almeida”

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